terça-feira, 12 de maio de 2009

BROTAS 2008

A data é 1º de janeiro de 2008. Eu e Ana Maria passamos o Ano Novo na sede da Fazenda Caiman, em Brotas. Ela fica muito próxima à estrada que liga Itirapina a Jaú, recém-alargada e com um pedágio bem próximo à entrada da fazenda, numa pequena rampa no sentido de Dois Córregos e Jaú. Estava muito quente. Do sofá da sala com frente ao campo, escrevia eu no início da tarde.

“Está muito quente hoje. Não tanto quanto nos três últimos dias, mas ainda passa dos 30 graus. O vento às vezes é quente, às vezes fresco. Lá fora, a varanda de piso de tijolos de cerâmica, cobertura de telhas com o madeiramento branco aparente. As colunas que o sustentam são cor de tijolo. São quadradas, mas eram originalmente redondas. Com o peso da cobertura, há alguns anos afundaram e tiveram de ser engrossadas. A varanda costeia a fachada da casa e parte das laterais. A casa, construída nos anos 1960, tem pouco mais de quarenta anos, mas ainda lembra as casas antigas de fazenda: quatro quartos dão portas para o fundo da sala comprida. A cozinha, no canto direito, também tem saída para a varanda.

A vista da varanda, para qualquer lugar que se olhe, é maravilhosa. Para as laterais, o pomar e a fieira de árvores na entrada onde está o portão. Para a frente, o pequeno vale de um pequeno córrego. São dois riachos, na verdade, que se juntam antes de desaguar no Jacaré-Pepira, depois de passar sob o asfalto. Vêem-se, muito próximas, duas casas e três cobertos. Uma das casas é do caseiro, o Manoel. Entre elas, uma árvore floresce com flores vermelhas alaranjadas. Do outro lado do vale, o morro alto e próximo. Na fralda, o canavial dos Tavolaros. No alto, mais íngreme, a mata fria, linda, cheia de macacos, veados e até raras onças. É o esconderijo das maritacas, sabiás e bem-te-vis. Algumas árvores estão florindo em amarelo. Mais à direita, ao fundo, nem mais longe, um morro em forma de mesa. E mais ao fundo, mais à direita, um morro com um pico, como um monte de açúcar despejado de um mesmo ponto sobre uma mesa.

Do lado de cá, o jardim da casa, com duas canelas-de-frango e diversos arbustos junto ao pé da varanda. Um antúrio enorme cresce enrolado numa das “canelas”. Maritacas voam, fazendo um verdadeiro escândalo, de uma árvore para outra. O silêncio nos deixa ouvir, mas não ver, o pica-pau martelando alguma árvore. Raras macaúbas assistem a tudo, retas e robustas. Há alguns anos uma delas morreu, atingida por um raio. Isoladas, são um bom alvo.

Ontem à noite, escura como breu, somente se via até um certo horário a janela com a luz acesa do caseiro e as luzes do pedágio da rodovia. Atrás do grande morro, às vezes víamos a luz intensa de um relâmpago, mas, a partir da meia-noite, já se enxergava a luminosidade de fogos espocados no sentido de Jaú, atrás da grande montanha à frente, ou de Dourado e Ribeirão Bonito, mais à direita. Uma fraca luminosidade vinda dessas cidades permitem-nos ver o contorno do morro. Não havia estrelas ontem, embora fosse noite de lua minguante. Muitas nuvens fechavam o tempo.

O progresso somente se faz notar no ruído ao longe dos carros, que, a este dia e hora, não são muitos na SP-225, seguindo de Itirapina para Jaú, ou ao contrário. O som do rio, apesar dos Três Saltos, não se faz ouvir, mas é possível, descendo no vale à noite, ouvir o correr das águas dos pequeninos córregos. As vacas pastam aqui e ali. Começa a chover. São quase três horas. O cheiro de grama e mato molhado se faz notar quase instantaneamente. Inúmeros mosquitos, mutucas e abelhas parecem desaparecer com o tempo mais úmido”.

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