sexta-feira, 29 de maio de 2009

OS MENINOS DE PAULA LIMA E O TREM DO GOVERNADOR

No finalzinho de 1999, cheguei em minhas andanças até uma velha estação ferroviária na entrada da cidade de São José do Rio Pardo. Vim de Casa Branca, dei a volta no trevo (era novinho, ainda não estava acabado) na entrada da cidade e voltei pela pista. Aí, entrei à direita, numa estradinha de terra muito ruinzinha, e desci em relação ao nível da rodovia uns dez metros. A rua continuava paralela à estrada e logo à minha direita apareceu uma velha estação da Mogiana, ramal de Mococa: a estação de Paula Lima.

Inaugurada em 1914 e desativada em 1977 junto com o trem de passageiros do ramal, essa estação destoa bastante das construções da Mogiana daquela época: é bem grande, e as coberturas da porta principal e da plataforma são de madeira trabalhada, voltadas para o alto, dando-lhe um ar de imponência raras vezes vista em estações daquela empresa.

Desci do carro, e fui cercado por várias crianças que moravam, ali, na estação, com seus pais. Eles viram que eu ia fotografar o prédio, e perguntaram se eu era da televisão. Eu disse que não, mas eles continuaram interessados em posar nas fotos. Eu tirei algumas e eles saíram numa delas, descalços, sorrindo com um dos meninos carregando uma grande bola de plástico. Para eles, foi uma festa.

Eu me lembrei, então, de quando o governador Franco Montoro esteve lá para reinaugurar o trecho abandonado de linha entre Casa Branca e São José do Rio Pardo, em 1985. Foi uma festa e o trem de passageiros, dez anos depois de ter sido suprimido, voltava a sair de Casa Branca, passando por Itobi, Vila Costina, Paula Lima e parando em São José do Rio Pardo. Não seguiria adiante. Ali, mais festas e a volta para Casa Branca, além da promessa de que essa seria a primeira de muitas viagens. Afinal, os trens, a linha e algumas das velhas estações estavam ali. Era um ramal aberto noventa e oito anos antes, não mereceria ele uma atenção especial?

As estações intermediárias não foram reabertas. Paula Lima já estava fechada, mas ainda se mantinha. Serviria como parada. Teve melhor sorte que Engenheiro Röhe, que já havia sido posta abaixo anos atrás, e que ficava perto da estação de Itobi. Mas o trem não passou nunca mais. A promessa ficou somente naquela primeira viagem, mesmo. Três anos depois, a linha começou a ser arrancada e foi colocada em leilão.

Parte dos trilhos, segundo contam, foi para Pedregulho, no extremo nordeste do Estado, para a construção de uma estrada de ferro dali até Rifaina, restabelecendo um pequeno trecho do que outrora foi a Linha do Rio Grande, da Mogiana, que ligava Ribeirão Preto a Uberaba. Essa estrada, com fins turísticos, não durou muito, também. Foi desativada já havia alguns anos. Com o tempo, gente simples passou a morar em Paula Lima. E olhem, podem dizer que vivem numa mansão. A estação impressiona pela sua forma e tamanho. Mas de trilhos, nem sombra.

Eu cheguei em casa e mandei revelar as fotografias que tirei. Aquela dos meninos, descalços, sorridentes, com a grande bola na mão, foi mandada ampliar, e colocada num envelope escrito: “para as crianças da antiga estação ferroviária de Paula Lima – Paula Lima, São José do Rio Pardo, SP”, com o cep do município e tudo.

Isto feito, postei-a no correio. Porém, um mês depois, eu a recebi de volta com a nota do correio dizendo algo do tipo “localidade não atingida pela entrega de correspondência”. Será que o correio não pode atender um bairro junto à cidade? Ou ele não o conhece? Que ironia, antigamente praticamente todas as estações ferroviárias eram também agências dos correios! Ora, há uma placa verde e branca no trevo, indicando Paula Lima. Seja qual for o motivo, os meninos de Paula Lima ficaram sem a fotografia, como ficaram sem os trilhos, como ficaram sem o trem. Triste Brasil.

Dez anos depois, eu estive ali outra vez. Não achei os meninos, claro. Afinal, se eles estivessem ali, eu não os reconheceria. Nada mudou, pelo menos para melhor. Paula Lima continua mais esquecida do que nunca, a não ser por seus moradores.

Um comentário:

  1. Prezado Sr. Ralph
    ao ler o post acima voltei ao passado!
    eu vivi este momento na cidade de Itobi-Sp próximo a Paula Lima :
    a limpeza dos trilhos do trem , o burburinho pela cidade de que novamente teríamos o trem circulando , reinvidicações para que colocassem trens de passageiros.....
    no dia , da "reinauguração " nós na estação esperando o trem e ele passa por nós levando Franco Motoro e comitiva acenando e .......
    Que decepção!

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