sábado, 12 de setembro de 2009

ENTRE O MATO E OS PERNILONGOS

Esta tarde outra vez fui dar as caras no Corredor, um pátio da Estrada de Ferro Perus-Pirapora. Mais uma vez falo desta ferrovia no blog. Lá estavam vários integrantes do grupo que se diverte tentando – e conseguindo – dar um jeito nesta ferrovia de quase cem anos e que viveu no abandono total por vinte.

Existem atualmente cerca de sete quilômetros de linha que pode ser utilizada, tudo recuperado por esse pessoal batalhador. A uma certa altura, pegamos o trolinho movido a gasolina para ir até o ponto em que duas árvores caíram sobre a linha no dia da chuvarada em São Paulo (8 de setembro), no sentido de Perus. No outro sentido, de Cajamar, há pelo menos dez árvores caídas. Seu corte vai ficar para outro dia.

O que é pitoresco é que os passageiros do trole têm de se desviar dos cipós e galhos que invadem a área dos trilhos e se proteger dos inúmeros pernilongos que existem por ali, principalmente a partir da tarde. O pessoal leva sempre seus Autans e Repelexes da vida. Quanto ao mato, a conservação e corte têm de ser constantes, principalmente no verão — ele invade rapidamente o leito e cobre os trilhos.

Avançamos com o trolinho — éramos cinco pessoas, sendo que temos sempre de ter quatro no mínimo para girá-lo no extremo da linha transitável, devido ao seu peso – até o ponto em que caiu a primeira árvore, cheia de galhos. Foram quarenta minutos para cortá-la e afastá-la dos trilhos.

A segunda árvore foi mais fácil. Enorme, mas sem galhos, foi bem mais rápido. Chegamos então ao final da linha, ponto em que, no quilômetro dois, uma estrada de terra a corta, estando os trilhos debaixo de pelo menos um metro de terra. Do outro lado eles continuam. As negociações para tirar os trilhos do soterramento e se construir ali uma passagem de nível estão bem avançadas.

Ali giramos o trole e voltamos. Pegaram carona mais três pessoas que haviam vindo a pé desde o Corredor. Estas pessoas estavam na pedreira em Cajamar, onde está a maior parte das locomotivas abandonadas. Uma delas foi desmontada para recuperação. Tudo feito por prazer. Até duas semanas atrás, ela estava infestada de abelhas, mato e galhos, junto com outras. Agora vai ser posta para rodar.

Este tipo de associação de preservação de ferrovias — há diversas no Brasil — atua realmente dessa forma: as pessoas fazem tudo de graça e se divertem. Capinam mato, serram árvores, montam e desmontam carros, vagões e locomotivas, constroem pátios, como se tudo fosse uma pequena maquete de “trem elétrico”. A Perus-Pirapora não é uma exceção.

Claro que todas lutam com falta de dinheiro. Verbas têm de ser levantadas por doações, pela mensalidade dos associados, por ajuda em material e/ou trabalho, e alguém corre atrás de tudo isso. No caso aqui, está funcionando porque as pessoas são sérias. Um deles trabalhou na ferrovia, e também seu pai, enquanto ela esteve ativa, até 1983.

Mais uma vez, parabéns a todos eles e pelo excelente trabalho de liderança que o Julio está fazendo. Esperamos que em 2014 a ferrovia possa comemorar seu centenário em situação bem melhor do que está hoje, assim como hoje ela está em situação muito melhor do que estava há dois anos.

Na foto acima, o pátio do Corredor, visto no sentido de Perus. Há dois anos, metade dele era um matagal e apenas uma linha podia ser vista.

Um comentário:

  1. Ralph, agradeço a referência à minha liderança, mas fazendo-se justiça, a liderança é de Paulinho Rodrigues, que não falha um só dia nos fins-de-semana lá na Perus-pirapora, e durante a semana, batalhando em vários lugares. Na verdade, creio que o progresso que o nosso modesto trabalho vem conseguindo deve-se sobretudo ao espírito de equipe que tem-se desenvolvido cada vez mais, sem estrelismos nem ciumeiras nfelizmente comuns em ONGs, até mesmo as pequenas como o nosso IFPPC.

    ResponderExcluir