sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A BELA JAGUARA

A bela estação de Jaguara. Notar, à esquerda, a cobertura de madeira em forma de um "u" invertido.

Ontem, o meu amigo Gutierrez, de Belo Horizonte, verdadeiro peregrino das ferrovias brasileiras (mas não o único!) mandou-me fotos tiradas do ramal de Catalão, da velha Mogiana. São de algumas das estações do ramal desativado em 1976 pela Fepasa e que unia as estações de Jaguara, final da linha do Rio Grande, com a estação de Uberaba.

Na verdade, a linha do Catalão, além de ser uma continuação da linha do Rio Grande (Ribeirão Preto-Jaguara), estendia-se não somente até Uberaba, mas sim a Araguari. Foi construída em dez anos, de 1886 a 1896. Deveria continuar até Catalão, em Goiás, daí o nome. Por razões políticas e erros de tática, como a demora da Mogiana em começar as obras do prolongamento, o trecho Araguari-Catalão foi concedido a uma nova empresa de nome Estrada de Ferro de Goiás. O trecho até Catalão, no entanto, só foi aberto em 1911.

Entre Jaguara e Franca, na linha do Rio Grande, a linha foi extinta em 1973, por causa da construção da barragem próxima a Rifaina, no Rio Grande. Com a linha cortada entre Franca e Jaguara, ficaram dois ramais, um saindo de Ribeirão Preto para o norte e outro de Uberaba para sudeste, já deficitários. Não duraram muito. Além do mais, um grave acidente no final de 1975 ou início de 1976 determinou o fechamento da linha mineira antes até do previsto.

Não é preciso ser gênio para saber que os trilhos foram logo retirados do lado mineiro. Em São Paulo demorou um pouco mais, mas depois de 1980 já não havia tráfego no trecho até Franca depois de 1981.

Sobrou para Jaguara, uma estação magnífica com um enorme pátio, projetada para ser uma estação ferroviária e fluvial. Dali partia a linha de navegação da Mogiana, que, aberta em 1888, fechou em apenas seis meses depois de um grave acidente no rio Grande. A Mogiana optou por não reabrir a linha, e Jaguara ficou realmente como um elefante branco. Abandonada há anos, o local, embora coberto de mato e muito mal cuidado, é, sem dúvida, um dos lugares mais bonitos do Brasil, e também um dos menos conhecidos.

Além de Jaguara, as outras estações do lado mineiro desse trecho da antiga linha do Catalão estão hoje todas ou abandonadas ou muito mal cuidadas. A exceção é a estação de Conquista. Jaguara está infelizmente, na lista das mal cuidadas, mas é um daqueles casos que sua majestade não a deixa perder sua imponência mesmo abandonada e suja - veja a foto acima, tirada por Gutierrez há poucos dias.

Eu estive em Jaguara no início de 2006 e também a fotografei, tendo me surpreendido com a beleza do local. Espero que alguma alma iluminada (e com dinheiro no bolso) acabe por restaurar o local um dia.

2 comentários:

  1. Já tinha lido muito sobre essa estação e sobre o notável viaduto ferroviário que transpõe o Rio Grande do seu lado através de uma revista chamada "Destaque In Sacramento", publicada por iniciativa do professor Carlos Alberto Cerchi. Aí, na primeira oportunidade, durante o carnaval de 2005, fui atrás de algumas dessas estações da região de Sacramento, das quais ninguém dava notícias seguras. Com R$22,00 e sem conhecer a região, fui pedindo carona nas estradas, andando a pé longos trechos sem saber se estava certo e às vezes dormindo ao relento. Fiz vários amigos (que nunca entenderam o porquê de alguém andar tanto, de graça, pra tirar foto de um prédio velho). Por puro acaso, passei por Almeida Campos (e sua conservada estação da EFOM), fantástico lugarejo desconhecido. Cheguei na estação do Cipó (estação Sacramento) no dia 08/02/2005 e após fotografar vários prédios do antigo pátio, tomar um banho no rio Grande e de ganhar um belo almoço oferecido por uma senhora das proximidades, continuei seguindo, procurando a Jaguara. O fato é que anoiteceu e eu achei melhor continuar até Rifaina-SP. A estação, que depois descobri ser uma réplica, estava até bem cuidada, mas por ser carnaval, não achei um lugar sossegado para dormir e nem a hospitalidade mineira para uma janta. O dia 09 custou amanhecer, e quando o sol raiou eu já estava na longa ponte voltando pra MG. Dessa vez, pedindo mais informações, acabei achando a estradinha que levava à estação. A surpresa foi enorme, tanto pelo prédio, quanto pela ponte: ambos existiam e estavam muito bem conservados. A senhora da fazenda onde está a estação pediu para que eu fosse atrás do marido dela para ter (ou não) autorização de chegar até o prédio (teria que atravessar o alambrado da fazenda deles). Depois de muito procurar, finalmente encontrei o tal senhor. Ele custou deixar que eu fosse até o prédio e mesmo assim falou, de modo muito (muito) grosseiro "para que não retirasse nenhuma telha, nenhum tijolo, nenhuma tábua e não destruísse nada". Acenei obedientemente com a cabeça que sim, mas por dentro eu comemorava: com um guardião tão feroz assim, o prédio teria sorte melhor do que vários outros que vi pelo caminho. Na época eu tinha que economizar nas fotos, já que só tinha uma câmera de filme, uma Zenit, excelente por sinal. Nunca mais pude voltar lá, mas tenho notícias de que a estação do Cipó (ponto terminal de uma linha de bondes rurais, local de nascimento do médium Eurípedes Barsanulfo) já está recebendo maiores cuidados. Toda vez que vejo uma imagem desse prédio, toda essa viagem reaparece na minha cabeça. As fotos, só as revelei no ano passado.

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  2. Depois de muito pesquisar e de ouvir o proprio Glaucio Chaves contar e recontar esse fato (e é sempre bom ouvi-lo) fiz uma viagem por todo o Ramal do Rio Grande, isso a dois anos... tirei fotos de todas as estaçoes, conversei com pessoas que ao me ver perguntava se era do governo, sempre com a esperança nos olhos de que um dia o trem voltaria. Quando cheguei na Jaguara, tambem acreditando estar diante da majestade das estaçõe, não mais tinha a cerca, a senhora e nem mesmo o guardião tao feroz que o Glaucio citou. O acesso é facil todos os predios estao abandonados e a bela estação encontra-se jogada ao léu. Uma pena, trata-se de uma jóia, um tesouro de historia, arquitetura e beleza...

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