quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

VARGAS E SÃO PAULO

Vargas no Estado Novo, como aparece na enciclopédia "Nosso Século".

Continuando a falar sobre a segregação de São Paulo pelo Governo Federal, fato que vem se arrastando há muitíssimos anos, gostaria de acrescentar também que eu, particularmente, não acho que Getúlio Vargas tenha sido um mau presidente. Muito pelo contrário, sob certos aspectos, ele foi um dos melhores que este País já teve.

Porém, ele, sem dúvida, isolou São Paulo, o Estado, durante seu governo. Vargas era vingativo. Muita gente caiu em desgraça com ele e foi duramente “castigado”. Miguel Costa foi um deles. Houve outros. Por outro lado, São Paulo, antes da Revolução de 1930, era chamado de “a locomotiva do Brasil – o trem que puxava 19 vagões vazios”. Eram vinte os Estados na época. Portanto, certamente Getúlio achou que outros Estados precisariam mais de ajuda que São Paulo. Entretanto, não era somente isso que ele achava.

Durante a Revolução Constitucionalista, por exemplo, todas as indicações são de que São Paulo não queria se separar do resto do Brasil. O que queria era a volta da ordem, ou, melhor ainda, queria depor Vargas para conseguir voltar à liderança perdida desde 1930. Vargas, espertamente, espalhou aos quatro ventos que o Estado queria a separação. É claro que em revoluções como esta há sempre quem pense dessa forma. Mas não era o pensamento dos líderes.

Para retomar a confiança perdida dos paulistas após a derrota destes, os homens de Vargas criaram a figura do “bandeirante herói”, com seus trajes com jalecos e botas pelos quais eles são conhecidos popularmente hoje em dia. Esses trajes eram uma farsa, mas a verdade é que os paulistas gostaram da história e também o adotaram – vide a estátua do “Borba Gato”, em Santo Amaro, construída depois disto.

Meu avô, Sud, tantas vezes citado em meus artigos, era um dos seguidores de Vargas no Estado. Sud pensava no Brasil como um todo, embora fosse um paulista de coração. É fácil sentir isto em seu material guardado pela minha família, suas cartas, seus livros. Ele não era um traidor, mas foi perseguido como tal durante a revolução (teve de se esconder, pois não via sentido em lutar a favor ou contra) e mesmo depois dela. Foi-o, simplesmente porque tinha sua opinião e não aceitava mudá-la somente porque alguns paulistas assim o exigiam.

Tanto que ele continuou morando na Capital até sua morte prematura, em 1948. E acabou, no final de sua vida, se desiludindo com o Estado Novo, que ele efetivamente apoiou. Seus artigos publicados já no final desse período e depois da queda de Vargas mostram claramente esta desilusão. Meu sogro, infelizmente já falecido, também prematuramente, em 1984 (basta trocar os números de 1948, ano da morte de Sud), uma pessoa extremamente inteligente, culta e esclarecida, com uma visão ampla dos fatos, considerava Getúlio um verdadeiro estadista, um dos únicos que, na opinião dele, o Brasil teve.

Geraldo Linhares Azevedo era seu nome: nasceu em Campos dos Goitacazes, viveu em Niterói, Barbacena e Rio de Janeiro até 1968, quando tinha 42 anos, e aí veio para São Paulo como transferido pela empresa para a qual trabalhava — a Shell. Quando terminou seu tempo em São Paulo, recusou-se a voltar. Afirmando que “gostava do Rio, mas em São Paulo podia-se realmente trabalhar”. Morreu por aqui mesmo, deixando sua belíssima filha aos meus cuidados de marido.

Enfim: Getúlio prejudicou São Paulo, mesmo, por vingança e/ou por achar que assim deveria ser. Porém, isso acabou por isolar o Estado dos outros. Basta ver a enorme diferença de desenvolvimento de São Paulo em relação aos outros Estados. Não é mais a locomotiva do Brasil, sem dúvida. Mas é muito forte.

Que os meus leitores que não são daqui me contestem, pois está na hora de me “acalmar”.

6 comentários:

  1. Bem, mas a figura do Bandeirante já era adotada pelos Paulistas antes e durante a revolução. É comum ver as tais alegorias do Bandeirante apoiando o soldado paulista, de carnação e arcabuz, como quem "empurra o seu povo para a vitória". Não era uma mera criação dos homens de Getúlio, mesmo porque esse tipo de figura acabou sendo "demsontada" com o passar dos anos. Além das alegorias de 1932, basta ver alguns brasões de cidades, a maioria desenhados por Affonso de Taunay. Cito o de São Bernardo e o de Mogi das Cruzes, ambos desenhados na década de 20 com o mesmo bandeirante envergando a vestimenta fictícia.

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  2. Olá Sr. Ralph, boa noite.

    Todos sabemos que, no período que antecedeu a entrada do Brasil na 2a Guerra, Vargas flertava com os dois lados, havendo quem diga que pendia um pouco mais para Hitler. D qualquer modo, Roosevelt acabou convencendo-o; o que segiu então foi um massacre contra os "súditos do eixo", especialmente concentrados em SP. Aliás, os "súditos do eixo" mais odiados foram os japoneses. Em brilhante exposição, Fernando Morais em seu livro "Corações Sujos" mostra em que medida esses "súditos" foram perseguidos: confiscos de bens, surras e espoliação moral. Foi uma re-edição de vingança do GV.

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  3. Azul, não li o Corações Sujos, apenas sei do assunto do qual ele trata, mas outras fontes - infelizmente não sei cita-las, pois li há muito tempo - dizem que a reação foi maior contra os japoneses por causa do fanatismo deles, coisa que não era tão grande em 1942 (quando a repressão realmente começou) por parte dos alemães e italianos. Sem querer justificar Getulio, esse tipo de coisas é comum em casos de guerra - chama-se "histeria coletiva", onde vizinhos de diferentes nacionalidades que sempre foram amigos passam a ser inimigos ferrenhos por literalmente nada.

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  4. Thiago, se v. está correto quanto ao fato de já existir a vestimenta-fantasia antes de 32, eu corrijo o que escrevi, então. Mas, realmente, as informações que leio sempre citam algo da era Vargas. O que pode ser é que eu tenha interpretado o fato como tendo acontecido na era Vargas e seja na realidade pouco antes dela... o fato é que era recente nos anos 1930. E é uma falsificação da história, seja quem tenha feito. Os bandeirantes foram homens fantásticos e chamados para lutar pelo Brasil inteiro (expulsçao dos holandeses, por exemplo), pelo fato de serem leais aos reis portugueses e por serem "gatos de rua" - lutar sem medir as consequencias. A roupa pouco importava - a bravura não se alterava com elas.

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  5. Azul'70 foi brando. Vargas pendia quase que totalmente para Hitler. Roosevelt convenceu-o sim, afundando navios brasileiros e colocando a culpa nos alemães. Além de vingativo foi vira-casaca e covarde, não tendo a coragem de enfrentar as pressões da oposição.

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  6. Olha, na visão de um cidadão Brasileiro que vê as coisas AO VIVO, e não aceita o lixo propalado pela imprensa daqui, eu acho que São Paulo não precisa de ajuda mesmo. Se fossem ajudar, era capaz de atrapalhar. Por outro lado, durante a República do Café-com-Leite, São Paulo teve tudo e os outros "19 vagões vazios", nada. Absolutamente nada. Acho eu que os Paulistas não tem muito do que reclamar...

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