quarta-feira, 14 de abril de 2010

MEMÓRIA PAULISTANA

Avenida Adolfo Pinheiro nos últimos dias, com os trilhos do ex-tramway de Santo Amaro à mostra; foto Mario Curcio/AE

Parabéns ao jornal O Estado de S. Paulo pelas duas reportagens de hoje no Metrópole: uma sobre o quartel do Parque Dom Pedro II e outra pelos bondes de Santo Amaro.

Mas nota zero no quesito erros: no do quartel, cita-se duas ou três vezes que a Marquesa de Santos foi amante de Dom Pedro II. Não foi, foi-a de Dom Pedro I.

Já nos bondes, meu Deus! As datas importantes estão todas erradas. Os bondes elétricos foram implantados em 1900 (e não 1890 e 1930, como consta em dois dos "pontos-chave") e os bondes para Santo Amaro apareceram em 1913, mas não 45 anos antes de 1968, como no "para lembrar". Lendo isso, o leitor fica em dúvida se eles começaram em 1913 mesmo ou em 1923 (foi 1913). Ou se o final foi em 1958 ou 1968 (foi 1968).

Parece que, como acontece há anos na Folha de São Paulo, as revisões no "Estadão" estão deixando de ser feitas por economia...

Isso não denigre, entretanto, as reportagens: histórias como essas são importantíssimas para se conservar a memória da cidade e do País.

Há cerca de três semanas eu estive nesse local e vi os trilhos ali. Dá uma dor no coração. E não há o que fazer: com a construção da estação do metrô, não podem mesmo ficar ali. Deveriam ir, depois de retirados, para um museu? Difícil - a figura deles no piso é muito representativa. A foto no jornal (acima republicada) é comovente para quem conheceu o passado. Para mim, uma das grandes fotos no jornal neste ano. Parabéns ao fotógrafo Mario Curcio, o qual não conheço.

A uns dois quarteirões dali, a praça Santa Cruz não lembra em nada o local em que ficava a estação Santo Amaro, retratada em outra fotografia publicada no mesmo artigo (e que, segundo algumas fontes, data de 1920; segundo o jornal, 1916). A praça ocupa hoje pouco mais do que o espaço que ocupava o prédio - que, segundo Werner Vana, foi demolido em 1966, já sem uso.

Essa estação não atendia ao bonde, e sim ao seu antecessor - a antiga Companhia de Carris de Ferro de Santo Amaro, que funcionou com locomotivas a vapor até a abaertura da linha de bondes para Santo Amaro.

6 comentários:

  1. A linha de bondes de Santo Amaro foi suprimida no mesmo ano em que se iniciou a construção do metrô de SP (Jabaquara-Santana) - 1968. Para nós, santamarenses, chegava a ser incompreensível que o metrô não tivesse sido iniciado em nosso bairro, já que o fim dos bondes liberou vários quilômetros de leito com características ferroviárias disponíveis para um belo metrô de superfície. Era quase que só colocar os trilhos!

    Mas, enfim, mais de quarenta anos depois, o metrô finalmente está sendo construído em Santo Amaro, se bem que a um custo muito, mas muito maior do que se fosse feito em 1968 usando o antigo leito dos bondes. Mas tudo bem, não? Afinal, como diziam minhas professoras do primário, num Grupo Escolar não muito distante das atuais obras, "o Brasil é um país riquíssimo"...

    E eu, que tanto sonhei com o metrô santamarense, nem resido mais no bairro. Agora fico esperando o VLT santista - só que não tenho mais 40 anos pela frente!

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  2. Realmente, uma linha na av. Ibirapuera seria o mínimo a ser feito na época. Na verdade, o ramal de Moema era dado como certo no metrô: não foi feito e foi esquecido. Curiosamente, porém, só ia até Moema... acho que perto do largo de Moema, portanto bastante curto.

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    1. É porque era para emendar com o "pré-metrô" em que seria transformada a linha de bondes de Santo Amaro (acho que era um VLT). Mas os planos de acabar com esse bonde são anteriores. No Acervo do Estadão, na edição de 21.01.1966, página 34, saiu a notícia: "Bondes serão retirados logo": o diretor do DST queria a extinção imediata de todos os bondes e não concordava com a CMTC que queria substituí-los por trólebus. Ele achava que demoraria muito e que poderiam ser substituídos por ônibus diesel e mais tarde por trólebus. A reportagem ainda dizia que o bonde de Santo Amaro deveria ser o último a sair porque parte de seu percurso não atrapalhava "tem caminho especial e não congestiona o trânsito".

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  3. Sensacional!

    A Maioria das pessoas acha que os trilhos foram simplesmente arrancados quando o sistema foi desativado, mas na grande maioria dos locais por onde passavam os trilhos, eles estão lá, debaixo do asfalto. Em Santos, não sei hoje, mas até pouco tempo atrás, eles inclusive nem esconderam. Os Trilhos continuavam assentados nas velhas e bonitas ruas de paralelepípedos de alguns bairros.

    No Ipiranga, onde nasci e morei (assim como meu avô e meu pai) os trilhos passavam na porta, eu não "peguei" este tempo, mas imagino que ainda estejam lá, sob o asfalto das rua Tabor, do Manifesto, dos Sorocabanos e outras.

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  4. Thiago, os trilhos quase certamente devem estar lá. Sua venda como sucata não compensa o custo de sua remoção. É mais fácil colocar asfalto por cima...

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  5. Lembra-se dos trilhos no balão da rua Veneza, nos Jardins, ano passado? Pois é...

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