segunda-feira, 17 de maio de 2010

COLONIZAÇÃO PAULISTA: A OBRA QUE FALTA

Casa-sede da colônia militar de Itapura, estabelecida em 1858 e ainda de pé em 2006 (Foto de Ismael Gobbo)

Houve um tempo em que, em teoria, a Capitania de São Paulo (antecessora da Província e do Estado de São Paulo) ocupava uma imensa parte do que viria a ser o Brasil. Também em teoria (porque os limites dos mapas hoje feitos apenas mostram os limites dos Estados atuais que se formaram naquela época), englobava não somente São Paulo, mas também Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e Tocantins.

Isto vigorou até 1853, quando o último dos Estados (na época, províncias) se separou - o Paraná. Cem anos antes (1748), a Capitania de São Paulo, que por sua vez era a sucessora da Capitania de São Vicente, foi extinta quando perdeu as capitanias de Mato Grosso (a original) e de Goiás: a Corte decidiu que, devido a ter ficado com território muito pequeno (território este que ainda englobava São Paulo para o sul, até o Uruguai), não havia mais motivo para se mantê-la. Ela passou, então, a fazer parte da Capitania do Rio de Janeiro.

O erro foi corrigido apenas 17 anos depois: a Capitania foi restaurada em 1765, pois o Rio de Janeiro, já capital do Vice-Reinado, não tinha como governar uma área tão grande. A primeira capital (provisória) da Capitania restaurada foi Santos, voltando logo em seguida para a cidade de São Paulo. A ordem do Morgado de Mateus, novo governador, era: povoar a província com urgência. Realmente, durante seu governo e de seus dois sucessores, foram fundadas várias cidades como Campinas, Araraquara, Piracicaba e outras, além de ter sido construída uma estrada moderníssima para o porto de Santos (moderna para a época): a Calçada do Lorena.

A Província (a partir de 1822, da Independência), no entanto, foi avançando muito lentamente para oeste. As terras para lá (no sentido oeste) de Araraquara eram ainda virgens. No final do século XIX, já em plena República, o já Estado de São Paulo tinha suas cidades do seu então extremo oeste ainda em Avaré, Bauru e Rio Preto, cidades com infraestrutura precaríssima e distantes de tudo.

No então "sertão desconhecido, povoado por bugres", apenas alguns aventureiros se infiltraram durante o século XIX, tendo constituído vilas minúsculas e pouco duradouras. Um dos mais famosos foi João Teodoro, que muito tempo depois foi agraciado com o nome de uma estação ferroviária da Sorocabana (1917), que gerou um município que, em 1939, teve o nome alterado para Martinópolis. Houve outros aventureiros, em geral gente que imigrou de Minas Gerais, como ele mesmo. Diversas cidades de São Paulo foram fundadas no século XIX por mineiros que "voltavam" às origens - afinal, os fundadores das cidades mineiras mais antigas eram paulistas - os emboabas.

Fora isto, a rivalidade com os países do Prata também gerou uma tentativa tímida de povoamento por parte do Império, como a fundação de duas colônias militares - Itapura e Avanhandava. As duas desapareceram rapidamente, quando a ameaça paraguaia foi reduzida a nada, com a derrota acachapante sofrida pelo Paraguai em 1870. A casa da colônia de Itapura ainda existe, mas a outra, de Avanhandava, já era ruínas no longínquo ano de 1886.

O mesmo tipo de desbravamento tardio se deu no Paraná e em Santa Catarina. Somente nos anos 1950 São Paulo, Paraná e Santa Catarina estavam totalmente desbravados. O mairo colonizador, o que acelerou muito o processo lento até fins do século XIX, foi a ferrovia. Ou melhor, "as": Paulista, Sorocabana, Noroeste e E. F. Araraquara.

A história que conto acima é um retrospecto extremamente resumido do que foi a conquista do oeste paulista. Porém, essa história ainda não foi contada por ninguém em conjunto, com detalhes que devem ter sido maravilhosos e trágicos ao mesmo tempo. Procura-se alguém que junte os retalhos de história e faça uma obra magnífica como essa.

3 comentários:

  1. Se esse prédio de Itapura ainda existir, deve ser um símbolo e tanto. Me lembrou a primeira estação de Santos.

    ResponderExcluir
  2. Sim, o prédio ainda existe e é tombado pelo CONDEPHAAT. Abraços

    ResponderExcluir
  3. Estive por lá no dia 8 de setembro de 2012 e ele esta de pé ainda, mas completamente abandonado! Uma pena.

    ResponderExcluir