domingo, 31 de outubro de 2010

BELEZAS (AINDA NÃO) PERDIDAS

Foto Douglas Nascimento

As coisas belas às vezes estão perto de nós, embora abandonadas (acima), como a casa de 1929 no bairro paulistano do Pari...

Foto Britto/ZNnalinha

... às vezes também próximas, mas bem cuidadas (acima), como a casinha do Ipiranga...

Foto Amarildo

... e algumas vezes bem mais longe, quase como um sonho (acima), como Conceição do Formoso, em Minas Gerais...

... mas sempre, infelizmente, estão perto de desaparecerem.

A primeira parece sujeita a um desaparecimento rápido, por estar num bairro totalmente deteriorado e já semi-abandonada.

A segunda, por estar num bairro onde uma casa é demolida praticamente no ritmo de uma por semana.

O pequenino vilarejo, por estar no caminho de uma barragem a ser construída nos próximos meses.

E nós, paulistanos, mineiros e brasileiros, ficamos somente olhando.

sábado, 30 de outubro de 2010

ORA, AS OBRAS QUE SE DANEM!


Nesta semana o jornal Folha de S. Paulo publicou como manchete o que deve ser uma prova que a licitação para a linha 5 do metrô de São Paulo foi fraudada. Diversas construtoras apresentaram propostas para os lotes 2 a 8 dessa linha e algumas construtoras foram as vencedoras para determinados lotes. Só que a sua vitória já era conhecida em abril: o jornal provou que depositou em cartório esse resultado, que teria sido combinado entre elas e o licitante seis meses antes.

A justiça parou tudo para ver quem é o culpado. Afinal, licitação combinada é fraude, lógico. Aliás, quem parou tudo nem foi a Justiça, mas sim o atual governador, Alberto Goldmann. As investigações serão feitas e uma nova licitação deverá ser aberta... no mínimo em seis meses.

Ora, sabe-se que as únicas empresas que tem o know-how e o maquinário para construção dessa linha são as mesmas que teriam fraudado a licitação. Portanto, a não ser que se abra para empresas de fora do país, as empresas que ganharão serão a mesma. Elas não deveriam ser punidas por formação de cartel?

Aliás, quem pagará pelo atraso nas obras? Pelo prejuízo incalculável de se atrasarem essas obras? Por que não, simplesmente, deixar as obras correrem e se penalizar as construtoras se realmente ficar provado que houve fraude?

Como sempre, houve fraude e quem vai pagar por isso é o povo, pois os governantes não têm competência para resolver problemas como esse rapidamente. Nem a Justiça se esforça para tal. Quer primeiro achar os culpados para depois resolver os problemas.

O certo é usar o método japonês: primeiro se resolve o problema, depois se acham os culpados. Mas aqui na terrinha, jamais, talvez por que se sabe que os culpados sempre voltam - ou jamais são punidos.

Neste país, a experiência nunca serviu para nada - afinal, não é a primeira vez que fatos como este acontecem e que prejudicam de forma severa os investimentos e as obras nacionais. Vergonhoso, vergonhoso.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

UM FESTIVAL DE ABSURDOS

Túnel da linha Mairinque-Santos em construção nos anos 1930, na serra do Mar. Arquivo FGV

É bastante difícil ser um pesquisador das ferrovias brasileiras. Difícil no sentido que estudá-las mostra uma quantidade enorme de absurdos feitos durante os mais de 150 anos de sua existência. 156, para ser exato. E mais seis meses. O pior é que os absurdos continuam nos dias de hoje. Aliás, um dos maiores deles é que as nossas ferrovias tenham sobrevivido aos últimos 30 anos, mesmo com todas as sacanagens, abusos, descaso, falta aboluta de atenção, péssimos dirigentes, corrupção e, atualmente, concessionárias que fazem o que querem sem qualquer fiscalização.

Ler as notícias é, na maioria das vezes, um desespero. Exemplos? Bom, o primeiro: nos últimos dias a ALL anunciou que "vai usar vagões "double stack" para tirar carga dos caminhões", ou, em português claro, vai colocar containers em "dois andares" sobre vagões-prancha para descer a serra de Mairinque pelas linhas que ligam a região de Paulínia ao porto de Santos. Legal - à primeira vista, a notícia é boa.

Porém, quem acompanha pelo menos um pouco do assunto "estradas de ferro" no Brasil sabe que para isso a ALL teria de elevar o teto dos túneis no caminho (ou aprofundar o leito dos túneis). Na serra, são quase 20 túneis relativamente baixos para uma operação dessas. Como a ALL não quer gastar esse dinheiro nem interromper o tráfego que já tem para fazer uma obra cara dessas, ela afirma que vai usar o "double-stack" durante um bom trecho, e na região dos túneis vai fazer um rápido transbordo para "um andar" apenas até o porto. "Em contêineres, a ALL quer abocanhar parte das 30 milhões de toneladas de carga movimentadas em Santos, cerca de 97% disso por caminhão".

Só que... ao contrário do que muita gente pensa, não há túneis somente na serra. Os túneis começam na região de Itu! São menos, realmente, do que na serra, mas... existem e não são tão poucos. São em tamanho suficiente para atrapalhar o plano. Então, a ALL fará o que? Vai fazer dois andares de conteineres somente de Paulínia a Boa Vista? Seria uma brincadeira.

O que parece mesmo que se quer com a notícia é anunciar um fato relevante para chamar a atenção da mídia ignara sobre um "grande projeto", mostrando que a concessionária está preocupada em melhorar seu desempenho. Enfim, ou alguém mente ou a mídia está publicando algo que teria sido explanado de uma forma e escrito de outra por algum tipo de mau entendimento... muito, muito estranho.

Mais absurdos? Tem no Rio de Janeiro: nada a ver com o assunto acima, mas com a depredação de bens que tinham algum valor, aliás, nada pequeno. Foi publicado num outro blog e, se tiverem paciência e estômago para lerem tudo... está tudo aqui.

Enquanto tudo isso acontece, as ferrovias que dizem que estão sendo construídas no Brasil e também as que vão ser construídas seguem tropeçando na incompetência, no marasmo, nas mentiras, nos entraves, nas demoras para se tomar decisões, etc. etc. etc.: Transnordestina, Ferroeste, Ferrofrango (tem nome pior do que este para uma ferrovia?), metrô de Salvador, VLTs por todo lado, linha 5 do metrô (esta última é assunto para amanhã).

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A PEDREIRA DA FEPASA EM MONGAGUÁ

Pedreira de Mongaguá - 1984 - foto Nilson Rodrigues

O Nilson Rodrigues mandou hoje por e-mail algumas raras imagens - só fanáticos como ele tirariam fotografias de trens da FEPASA ali em 1984 - da pedreira da ferrovia em Mongaguá, junto à serra do Mar e ainda dos tempos da Sorocabana.

Havia um desvio ferroviário que saía de próximo à estação ferroviária da cidade - que ficava no ramal de Juquiá, este partindo de Santos - e, cruzando a rodovia Padre Manoel da Nóbrega (também chamada popularmente de Pedro Taques), seguia até a pedreira.

Vista aérea de Mongaguá em 1973; a pedreira é vista ao fundo, nas encostas da serra do Mar. Acervo Wanderley Duck

Não há registros conhecidos de quando o ramalzinho foi extinto, mas supõe-se que teria sido no final dos anos 1980 ou no início dos 1990. Em 1998, fui pela primeira vez à estação de Mongaguá, fotografá-la. O trem de passageiros já havia deixado de passar poucos meses antes (parou em novembro de 1997) e a estação já apresentava muitos sinais de abandono.

Quase fui preso por dois policiais, que indagaram o que eu estava fotografando. Fácil, né, interrogar um fotógrafo ferroviário com 46 anos de idade... mais fácil do que interrogar um drogado ou traficante. Só para constar, a estação, hoje, doze anos depois, continua um lixo, abrigando um barzinho que tem má fama. Ali, nem o trem cargueiro passa mais, extinto em 2002. Os trilhos estão debaixo de mato.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

LEIS DE TRÂNSITO EM 1925



Alguns exemplos ilustrados de leis de trânsito em São Paulo (as leis eram municipais, na verdade) em 1925. A vida mudou muito, mesmo, em 85 anos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL


Hoje li a notícia da morte de Romeu Tuma. Sempre tive uma ideia dele de bom policial. Depois entrou para a política. Não me impressionou. Aliás, me deixou bastante decepcionado o fato de ele, já muito doente e provavelmente já sabendo que o fim estava próximo (sua morte chegou a ser noticiada, por engano, pela Folha de S. Paulo, pouco antes do primeiro turno das eleições), não teve a dignidade de renunciar, fazendo com que quem votasse nele votasse realmente no seu suplente. Por sorte, não conseguiu o cargo - nem seu suplente: um desconhecido para a população de nome Antonio Carbonari Netto.

Ouvi no rádio que ele lutava por um projeto da Guarda Nacional, pelo que entendi, de sua autoria. Não tenho a menor ideia se era um bom projeto ou não. O fato é que, por essa notícia, lembrei-me que não era um projeto para a segurança nacional que estivesse causando muita animação de seus colegas de Senado para a sua aprovação.

Isto me faz lembrar que, embora a segurança pública no Brasil seja uma piada há muito tempo, ninguém se empenha para mudar esta situação. Tuma ficou dezesseis anos no Senado. Não conseguiu a aprovação do seu projeto, e, sinceramente, não sei se realmente lutou por ele. Há outro fato que me intriga: por que, sendo segurança pública uma enorme preocupação neste país de Deus, não se apresenta um plano decente para que se mude o atual sistema, claramente falido?

Será que é por que o sistema inteiro de Justiça deveria ser mudado, tornando-se ágil e não lento e cheio de instâncias que acabam por fazer com que condenações (principalmente para quem tem um bom e caro advogado) sejam praticamente inviáveis? Ou por que os direitos humanos aqui somente são reservados para os criminosos e assassinos? Ou por que a corrupção seria grande demais? Ou... sei lá.

Não sei qual é a solução para resolver o problema. Não sou do ramo. Porém, não gosto de ver a maioria das cidades brasileiras com casas e prédios cercados por muros e grades. De ver uma cara segurança particular ser colocada cada vez mais e mais nas calçadas das ruas (lembram-se dos guarda-sóis e dos homens de preto com rádios?). De ter de arriscar a vida quando ando nas ruas. De ver arrastões cada vez mais frequentes nos prédios de apartamentos de São Paulo. De ver condomínios de casas cercados por muros e portarias (sim, moro em um deles).

Talvez não se invista em segurança pública porque a solução mais óbvia: porque lá atrás, não se investiu em educação. Sem ela, a segurança pública será sempre válida para você, para os outros, não. Você é que importa, os outros não. E o atual sistema de vida não colabora com isto - afinal, quantos amigos v. já fez fora de casa e quantos fez somente falando pela Internet?

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O RANCHO FUNDO ERA NA SOROCABANA?

Versão moderna do Rancho Fundo? Não dá música, né?

No Rancho Fundo

Bem pra lá do fim do mundo

Onde a dor e a saudade

Contam coisas da cidade.

Onde fica o Rancho Fundo? Será que é mesmo bem prá lá do fim do mundo? Esta música foi composta em 1931 por Ary Barroso e letras do também fantástico J. Carlos para uma peça musical, com o nome de Grota Funda. Lamartine Babo teria ficado tão impressionado com a música, que mudou os versos e o título para Rancho Fundo.

Quantos Ranchos Fundos terão existido no Brasil, afinal? Certamente, mais de um. E um deles ficava na Sorocabana! Num esquecido guia Levi de maio de 1933, há uma estação chamada Rancho Fundo entre as de Caucaia do Alto e Aldeinha, no meio do mato. Ainda hoje aquela região está no meio do mato, mas não vi mais nada sobre a estação, ou paradinha, em outros guias.

A canção é muito bonita, como a verdadeira música rural do nosso país. Feita numa época em que a vida rural ainda era aquela que se diz "romântica", que gerou, por exemplo, os livros maravilhosos do Sítio da Dona Benta de Monteiro Lobato, a inspiração para canções como essa vinha muito mais fácil para os compositores, numa vida no campo muito calma e cjeia de dificuldades, mas também de aventuras.

Hoje, a ligação do campo com a cidade é fácil demais. Nem precisamos nos deslocar, basta ver como acontece quando os donos de fazendas e sítios vão de suas casas para o "mato", levam suas televisões, telefones celulares e computadores... se estes já não estão por lá aguardando. Para que, muitas vezes, ir até lá, se a comunicação é mais fácil e, para quem já vive lá - caseiros, agricultores - têm seus próprios "aparelhos do demônio", algumas das causas do êxodo rural implacável.

Por isso, vão desaparecendo os Ranchos Fundos, Grotas Fundas, Córregos Fundos e também as músicas que os lembravam. Porém, ficam as músicas antigas. Até quando?

domingo, 24 de outubro de 2010

E QUE SE DERRUBEM AS CASAS PAULISTANAS!

Este simpático chalezinho, na época já meio mal cuidado, ainda estava de pé em 1988, quando eu parei meu carro em frente a ele, na rua Domingos de Moraes, e o fotografei. Não muito tempo depois, foi demolido. Em seu lugar, hoje, existe uma agência do banco Bradesco. A foto foi reproduzida hoje no jornal O Estado de S. Paulo.

Neste domingo, o caderno Metrópole do O Estado de S. Paulo publica uma reportagem sobre o que se demole de casas no município de São Paulo e o que isso representa para todos os seus habitantes.

Depois, na página 3, como um complemento a isso, os reporteres Rodrigo Burgarelli e Rodrigo Brancatelli escrevem sobre a Vila Mariana e algumas casas que foram demolidas nas ruas Domingos de Moraes e Vergueiro.

Os exemplos dados - por fotos com o local anterior e o atual - são: na Vergueiro, o Instituto Ana Rosa (onde hoje está o conjunto de prédios do Lar Brasileiro) e duas casas geminadas no número 2024 da mesma rua (demolidas pelo metrô, sobrando somente os terrenos dos fundos, onde foram construídas duas lojinhas).

Na rua Domingos de Moraes, são mostradas a Villa Kyrial (no número 300), a garagem de bondes da Light/CMTC (onde hoje há um muro com o símbolo do metrô, junto à praça Teodoro de Carvalho), a chácara Conceição (em frente à rua dona Júlia), um chalet típico do início do século XX (am frente à antiga garage de bondes) e um quarteirão de casas entre as ruas dona Júlia e Lins de Vasconcellos. Todos esses imóveis foram demolidos e substituídos por ouras construções, com exceção do da garage de bondes.

Em termos de qualidade de vida, de estilo arquitetônico e de história, essas derrubadas - que ocorreram de 1950 a 1990 - foram desastrosas. A mais significativa delas foi a da Chácara Conceição, que teve não somente a casa demolida, mas também seus jardins imensos atrás dela, que ocupavam a área desde os fundos da casa até o córrego do Sapateiro, entre as ruas Sud Mennucci e Capitão Cavalcânti.

Para contar a história dessas construções antigas, o que elas representaram para São Paulo e o que se perdeu com isso, seria necessário mais do que um livro. Mesmo porque uma delas - a Villa Kyrial - já teve dois livros escritos somente sobre ela. Já sobre a Chácara Conceição, já escrevi em pelo menos duas postagens neste blog.

E vamos tocando a vida. Que venham mais edifícios horrorosos de apartamentos, parece que de forma alguma nossos governantes e muito menos as construtoras se importam mais com isso. Enquanto isso, os congestionamentos no trânsito e o excesso de passageiros nas vias férreas aumentam dia a dia.

sábado, 23 de outubro de 2010

A VIDA EM 1929


Em 4 de janeiro de 1929, uma sexta-feira em São Paulo, Eduardo pôs gasolina "na bomba da avenida" e gastou 20$000 - vinte mil réis. Comprou no mercadinho 2 latas de manteiga e 1 kg de mortadela a 8$600. Pagou a assinatura anual do jornal O Estado de S. Paulo: 50$000. Comprou também meias a 5$500 cada para Leonor, Amelia e Raymunda.

No sábado, comprou 1 kg e meio de café em pó por 6$000. Foi à frisa do cine República a 18$000. Fez feira e comprou uma melancia, peixe, 2kg e 700 de batata, 1 kg e 300 de tomate, 1 kg e 700 de vagens , 2 duzias e meia de giló, beringela, couve, 400 de pimentão, 10 maços de almeirão, 8 maços de acelga, carne, 7 maços de espinafre, 14 maços de chicoria crespa, limão cambuquira, 5 espigas de milho verde e gastou 10$000. Pôs de novo gasolina na "bomba Standard" (Standard Oil = Esso?) com 20$000.

Na segunda-feira, comprou 5 kg de gelo na Antartica a 800 réis e foi na "Paulistana" onde comprou material de armarinho a 5$700. Na sexta, comprou um saco de carvão na quitanda a 1$000. No sábado, pagou as mensalidades do Clube Paulistano por todo o ano , no total de 240$000. Ainda foi na rua José Paulino, onde comprou uma capa impermeável para o chauffeur, o Clovis, tamanho 44, a 120$000.

No domingo, comprou cigarros no Armazém Palmeiras e pagou 5$000. Comprou 1 carroça de lenha a 9$000. Na quinta-feira seguinte, pagou o seguro do automóvel placa 10.980 na Companhia Motor União na Praça do Patriarca 12, 5o andar. Valor: 662$200. No dia seguinte, comprou uma lata de óleo Castrol na Casa Tarnicroff - 19$800.

Na segunda, 21, comprou na Mappin uma colher, uma escumadeira e uma colher de pau a 5$400, além de flores a 15$000 ("Stella comprou com o dinheiro della"). Foi à frisa no cinema Odeon: 20$000. Levou a roupa do chauffeur Clovis para a tinturaria, onde gastou 5$000 com limpeza.

Enfim: todos esses gastos estão relacionados dia a dia no ano de 1929, na "Carteira Comercial Paulistinha", anotados pelo seu dono, que tinha seu nome impresso na capa. A vida era mais cara? Mais barata? Difícil, há que se comparar uma mercadoria com outra. O que está copiado acima foram só uma ou outra despesa do mês de janeiro...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

CONGELADO NO TEMPO

O prédio do Colégio Des Oiseaux, barbaramente associado há mais de 40 anos na rua Caio Prado.

Bem, o título é um pouco exagerado. Porém, estive hoje na Praça Roosevelt, mais especificamente na rua Olinda, hoje chamada de João Guimarães Rosa, também nas ruas Gravataí e Caio Prado. Estava a pé. Saí da rua Augusta, subi a Olinda. Reparei que, salvo engano, todas as construções que existiam no final de 1969, quando terminei o último ano (terceiro) do curso científico do Colégio Visconde de Porto Seguro, ainda estão ali.

O edifício da esquina com a Augusta, o prédio do colégio, hoje ocupado pelo Caetano de Campos, construído em 1913, o prédio ao lado que o Colégio ocupou por algum tempo (estudei ali em 1968), este totalmente em ruínas... mas um belo prédio. Acredito que originalmente tenha sido uma residência particular. Deve ter sido construído na primeira década do século XX, pelo estilo. Logo depois, uma casinha menor, bem velha também, mas razoavelmente conservada. Até a esquina com a Gravataí, tudo igual.

Em frente, a Praça Roosevelt, ainda como era em 1969, logo após completarem sua reforma. Reforma, não: antes não havia nada ali, apenas uma enorme área asfaltada, que se enchia de pombos durante quase todo o tempo, exceto nas quartas e sábados, quando havia uma feira livre que ocupava toda a área, menos, claro, a Igreja da Consolação. Hoje, a praça está cercada, pois vai passar por uma grande reforma. Quando? Sei lá, é promessa de político, sabem como é.

Entrando na rua Gravataí à esquerda, as construções são as mesmas. Mudaram algumas funções, mas é como se o tempo tivesse congelado. Vejo que há um teatro ali: esse teatro, na verdade, era a área que pertencia ao Porto Seguro, era o auditório. Minha formatura foi ali. Entrava-se pela Gravataí e pelo pátio mais baixo da escola, onde estava a quadra de basquete. Não sei se ainda está.

Ao longe, avisto a única grande mudança: um prédio de apartamentos novo - creio ter no máximo uns 3 anos - construído na Caio Prado, entre a Gravataí e a Augusta. Ele dá fundos para o enorme pátio, (ainda) arborizado do ex-Porto Seguro. Na esquina da Gravataí com a Caio Prado, os terrenos que eram vazios em 1969 continuam vazios. Servem hoje como estacionamento.

Na Caio Prado, em frente, vejo o vazio deixado pela demolição do antigo Colégio Des Oiseaux, construção de 1907 de Vitor Dubugras. Ele havia sido demolido em 1974. Quando deixei o Porto Seguro, ainda estava em pé. Era um prédio lindíssimo, cercado de vegetação. Até hoje nada foi feito ali, apesar de vários planos de hotéis, espigões, etc. Parece que hoje já não se pode construir mais ali, mas o terreno hoje não serve para nada, vive fechado.

Seguindo por esta rua até a rua da Consolação, tudo está como era, prédios mais altos, mas baixos e um belo casarão pouco antes do cruzamento, do lado direito, muito bem mantido há anos.

Enfim, um raro pedaço muito próximo ao centro da cidade que ainda se mantém praticamente igual ao que era por mais de 40 anos. Até quando?

(Página atualizada em 20/11/2017)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O FIM DO PALACETE SARRACENI

O Palacete Sarraceni - Foto da Folha Metropolitana, 25/5/2010

Guarulhos existe hoje como município devido ao surgimento de um aldeamento indígena em priscas eras. Este aldeamento, próximo ao rio Tietê, desenvolveu-se modorrentamente durante séculos, até que, no final do século XIX, a cidade que se formou em torno dele conseguiu sua autonomia como município, desmembrado da então capital de São Paulo.

Na época, nem se pensava em uma "Grande São Paulo", uma região metropolitana que englobasse as cidades em volta da capital paulista. Guarulhos, embora município, era considerado apenas um mero, longínquo e estagnado subúrbio da cidade de São Paulo.

A cidade somente começou a crescer um pouco mais quando o então Tramway da Cantareira alcançou a cidade no ano de 1917. Agora com pelo menos um acesso decente, além da péssima estrada de Guarulhos (a atual avenida Guarulhos), era mais fácil chegar à região e receber e exportar mercadorias, fossem elas quais fossem.

Assim, algumas indústrias começaram a se instalar timidamente na cidade. Uma delas foi a Sarraceni (Saraceni?), construída próxima ao atual leito da via Dutra. Aliás, pode-se dizer que apenas com a construção desta rodovia, inaugurada em 1952, é que Guarulhos pôde realmente se desenvolver. Mesmo assim, lembro-me que a primeira vez que fui à cidade, com meu pai, foi para levar um colega meu de classe para sua casa, ele que havia passado o dia conosco no bairro do Sumaré. Lembro-me que isto ocorreu em 1962 e que foi uma verdadeira aventura ir e voltar de lá, mesmo de automóvel. As ruas eram praticamente todas de terra e o local parecia mais longe do que qualquer outro lugar para onde eu já havia ido.

Finalmente, chegou o aeroporto internacional de Cumbica, construído em terras do antigo aeroporto militar, em 1985. Já antes disso, porém, diversas indústrias já haviam se instalado às margens da via Dutra. Por um motivo ou por outro, a Sarraceni não sobreviveu ao século XX, fechando antes do seu final. Os prédios foram demolidos e o que sobrou foi a casa onde a família morava - um belo palacete art-noveau semi-abandonado no meio de um pátio deserto, mas bem conservado pelo menos externamente, ao lado do estacionamento do atual Shopping Guarulhos, este a antiga fábrica da Olivetti.

Guarulhos, no entanto, sempre foi uma cidade feia. Como a grande expansão somente veio em meados do século XX, as casas mais antigas foram sendo postas abaixo e poucas sobraram para contar a história. Milagrosamente, o palacete dos Sarraceni ficou em pé. Tanto que, numa cidade pobre de construções notáveis, foi tombada pela Prefeitura Municipal.

Porém, eis que nos últimos tempos começou-se a falar em demolição do palacete. Os motivos seriam que a Prefeitura precisava fazer obras no entorno da via Dutra para facilitar o acesso da rodovia à avenida Guarulhos, que ali ia ser feito um túnel... houve boatos até que o Shopping queria aumentar o seu estacionamento e a casa estaria atrapalhando.

Seja qual seja o motivo, a Prefeitura conseguiu o destombamento da casa (pasmem!!!!), com o suposto aval de um arquiteto que teria defendido uma tese de que a construção não tem um estilo que exija sua preservação. Não posso discutir isto pelo fato de não ser arquiteto, mas quem é que disse que construções são preservadas apenas pelo seu estilo arquitetônico? A sua história também muitas vezes justifica esse tombamento. E isto nem foi levado em conta. Afinal, é a única construção do município que retrata uma era de imigração.

O fato é que a casa está "destombada" e deverá ser demolida nos próximos dias. Guarulhos, que jamais foi uma cidade com atrativos, agora será uma cidade com menos atrativos ainda - se é que ainda tem algum (passear no aeroporto é atrativo?).

Com filosofias e atitudes mesquinhas e irracionais como esta, a prefeitura de Guarulhos consegue apenas provar que mantém sua mentalidade suburbana de uma feia cidade-dormitório, que só sobrevive graças à proximidade com a Capital do Estado e seus mais de 10 milhões de habitantes. É verdade que a cidade é o segundo município em população do Estado, mas também apenas por causa dessa proximidade. No duro, no duro mesmo, Guarulhos jamais passará do que é hoje - um mero subúrbio de São Paulo.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

QUAL A CAPACIDADE DE TRANSPORTE DAS FERROVIAS NACIONAIS?


Muito se tem comentado que as ferrovias recusam cargas que não sejam de seus próprios sócios acionistas ou cargas que lhe dêem lucros menores, prejudicando o transporte em geral no país.

Porém, vi três notícias nesta terça-feira que mostram que a MRS (que parece ser a segunda concessionária mais bem sucedida no Brasil, perdendo somente para a Vale) conseguiu:
1) um acordo com a CPTM para segregar a linha cargueira entre Suzano e Manoel Feio;
2) vai importar locomotivas para a cremalheira e
3) vai investir sei lá quantos milhões para melhorar suas linhas, aumentando sua capacidade, segurança e velocidade de transporte.

Admitindo que tudo isto realmente seja real e se concretize, é bem provável que isto continue beneficiando apenas o transporte de minério, que é de longe a principal carga da MRS.

Portanto, se minha suposição for correta, isto não resultaria em diversificação da carga que eles transportam e, portanto, não resolve outros problemas de transporte de grãos, petroquímicos, containers, etc etc etc. (é claro que principalmente grãos não são uma grande fatia do transporte na região em que a MRS atua).

Por outro lado, na atual malha percorrida pela MRS, haveria quanto de possibilidades de se aumentar as cargas com uma diversificação, além do que eles transportam de minérios? Ou seja, em termos de investimentos, SEM AUMENTAR A MALHA, quanto será o limite de cargas que eles poderiam transportar fazendo melhorias em novas locomotivas, segregação de linha onde é necessário, aumento de extensão e de número de postos de cruzamentos e substituindo eventuais linhas velhas por linhas novas (troca de via permanente)?

Para resumir: embora muita gente critique as concessionárias, e neste caso a MRS, por não diversificar suas cargas, seria possível a ela diversificá-las sem aumentar a quilometragem, ou seja, construindo novas linhas?

Gostaria de ouvir opiniões.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

TREM PARA CUMBICA


O velho trem da Cantareira para Cumbica durou dezenove anos. E na época, Cumbica era um pequeno aeroporto militar. O ano de 1965 foi o fim da linha e sua remoção. Pouco mais de dez anos depois, o Governo Federal decidiu-se por construir um aeroporto internacional no lugar do pequeno aeroporto militar. Em 1986 ele foi aberto (nota: o ano de 1986 eu tenho de confirmar, mas foi por aí). Sem trem, justamente quando mais ele precisava.

Nessa época, ir para o aeroporto já dependia do uso da Marginal do Tietê e da rodovia dos Trabalhadores, então chemada de via Leste. Ou da Dutra. Na verdade, como hoje. Porém, nos 25 anos que se seguiram, a Marginal do Tietê virou um inferno. Ir para o aeroporto tornou-se um drama. Algumas viagens podem durar até duas horas, da região central da Capital até um aeroporto que não fica a mais de 30 quilômetros - se tanto. E não há alternativa, pois a única forma de se chegar ali é por carro, táxi, ônibus... todos dependentes das mesmas ruas e estradas.

No início da primeira década do século XXI começou-se a pensar em construir uma linha férrea, pela CPTM, para unir a antiga linha da Central, a que vai para Mogi das Cruzes, ao aeroporto de Cumbica. Com ela, pelo menos parte dos usuários do aeroporto poderiam ter um transporte menos desgastante, pois trilhos não congestionam, tem via livre. Inicialmente, a discussão sobre de onde partiria o trem. Deveria sair da estação do Braz ou da Luz. Outros defendiam sua saída da zona oeste da cidade, pois quem mais usa o aeroporto está lá.

De qualquer forma, seguiu-se com as enrolações de sempre, os anos foram passando e nada de licitação. Até que marcaram uma, mas o Ministério Público barrou, questionando o estudo ambiental - afinal, sabem os senhores, o MP entende de tudo sempre mais do que os órgãos governamentais. Suspendeu-se o embargo, mas a licitação não saiu. Continuou-se, no entanto, falando do trem.

Alguns propuseram colocar o aeroporto como uma das estações do trem-bala Campinas-SP-Rio - que até hoje, também devidamente está sendo enrolado. Aí ficaou a dúvida: será um trem da CPTM e um trem-bala para o mesmo objetivo? Alguns disseram que sim, outros que não. E a enrolação continuou.

Hoje, nos jornais, a notícia: foi suspenso, por enquanto, a licitação para o trem da CPTM. Por falta de interesse das construtoras, que também administrariam a linha, como numa ferrovia privada. Ora, uma linha que realmente é muito importante, dada a saturação da Marginal e principalmente da via Dutra e Ayrton Senna - esta, a antiga Trabalhadores, não poderia estar nesta situação. As empreiteiras dizem que o trem não daria lucro - então, que o Governo pegue, pois o trem é necessário. Não se pode, realmente, querer que uma empresa privada trabalhe no prejuízo, mas este é um típico caso que o Governo deveria assunir. Sem lucro, sem trem, sem infra-estrutura? Para mim, uma decisão absurda.

E as empreiteiras também reclamaram que o trem-bala seria concorrente dessa linha, pois parará também no aeroporto. Não gostam de concorrência. Mas quem disse que o trem-bala deverá sair? Por enquanto, é só enrolação. Além do mais, para piorar a situação, a Copa de 2014 exigiria uma facilidade de translado do aeroporto para a cidade - um trem. Até lá, agora, não deverá haver trem nenhum.

Será que Deus é mesmo brasileiro? Afinal, qual deus é brasileiro? O deus da burocracia? O da indecisão? O deus da falta de planejamento? O deus da incompetência? O deus do lucro? Escolham seus deuses, compatriotas.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

MUZAMBINHO 1913

Muzambinho em 1913: Avenida Américo Luz. Ao fundo, a velha igreja. O api de Américo Luz, fazendeiro e dono de garimpos na região, foi o idealizador da E. F. Muzambinho. Acervo Henrique Annunziata

Conheci a cidade de Muzambinho em 2008, dois anos atrás. Eu ouvia falar dela desde quando estava no ginásio: um colega meu de classe, que havia perdido dois ou três anos devido a problemas de visão, queria apressar sua entrada na faculdade e por isso planejava fazer madureza, como era chamado o exame para ser aprovado mais cedo no segundo grau. Ele sempre dizia que iria fazê-lo em Muzambinho. E dava risada.

Depois, foi o radialista Milton Neves que falava sempre da sua cidade natal - justamente ela, Muzambinho - em seu programa de rádio, na época na rádio Panamericana. E fazia, como ainda faz, questão de manter seu sotaque mineiro, pelo menos daquela região.

Mais tarde, com meus estudos sobre ferrovias, fui conhecer a cidade geográficamente, no ramal de Juréia, que passava por Muzambinho vindo de Guaxupé, tocado pela Mogiana. No início dos anos 1910, a Mogiana comprou um antigo projeto de ferrovia da cidade, que por sua vez foi comprado pela Rede Sul-Mineira e revendido à Mogiana. O célebre jogo de venda de concessões. O fato, porém, é que Muzambinho não tinha dinheiro para construir a linha, por isso a vendeu.

A ferrovia ficou pronta em 1914. A cidade, porém, pouco mudou desde então. Francisco Marques, velho morador, reconheceu diversas fotos de uma fornada inédita da cidade que dividimos depois de comprar um álbum sobre a construção do ramal e comenta até o nome das ruas, a posição de onde as fotografias foram tiradas, os edifícios. É ele quem afirma que as mudanças foram poucas. E, em minha visita em 2008, já havia chegado a esta conclusão: era uma cidade antiga, com prédios, em sua maioria, antigos, e uma cidade pequena, sem expansão recente - impressão que me deu, confirmada agora por um conhecedor.

Meus agradecimentos nesta postagem a Francisco Marques e ao Henrique Annunziata.

domingo, 17 de outubro de 2010

ENTERRANDO DINHEIRO EM ABELHA

Desenho de Carlos Latuff mostra a posição de uma estação que existiu apenas por 7 anos no Paraná

Hoje meu amigo Carlos Latuff, que perambula por boa parte do Brasil (e às vezes por outros países) à cata de aventuras, mandou-me o link de sua nova postagem no seu blog, sobre a estação ferroviária de Abelha, às margens do rio Ivaí, no Paraná. Vejam-na, é muito interessante.

Porém, o que me leva a falar sobre esta postagem e seu blog é o fato não de ele encontrar uma estação abandonada ou de caminhar por linhas ferroviárias extintas - pois isso ele faz bastante - mas sim por que não consigo me conformar em como este País tem jogado dinheiro fora através de sua história recente.

Essa linha citada por ele, onde estava a estação de Abelha, foi inaugurada em 1965 e prolongada depois em 1967 até Jussara e terminou em Cianorte, em 1972. Era um prolongamento da antiga E. F. São Paulo-Paraná, que havia alcançado Londrina em 1935 e Maringá em 1954. Para estas duas cidades, até que o ramal, que partia da cidade de Ourinhos, em São Paulo, havia cumprido parte de sua função, que foi alimentar com facilidade o crescimento dessas duas cidades (e de intermediárias) e depois escoar sua produção.

Para a frente de Maringá, no entanto, a linha foi prolongada muito lentameente. As cidades que ela alcançou pouco prosperaram e a que ficou sendo a terminal, Cianorte, já era uma cidade bastante desemvolvida quando foi finalmente alcançada pela ferrovia, em 1972. Os trens de passageiros trafegaram de Maringá a Londrina por apenas 7 anos - de 1972 a 1979. Não eram os mesmos que vinham de São Paulo diretamente para Londrina e Maringá: havia sempre uma baldeação nesta última cidade para seguir adiante.

A ferrovia deveria ter sido estendida até Umuarama. Nunca o foi, embora tenha sido gasto muito dinheiro nos projetos para que isto ocorresse, pela RFFSA. Em 1978, ainda havia publicações a respeito de um prolongamento então dado como certo. Depois, não se falou mais nisso. Para piorar as coisas, as cargas transportadas para além de Maringá, que já não eram grande coisa, foram minguando. Com a privatização da linha, em 1997, o tráfego entre Maringá e Cianorte desapareceu.

A ALL não tem nenhum interesse em carregar nada por ali. As estações, relativamente novas, viraram ruínas.

Enfim, este não foi o único exemplo de dinheiro mal empregado. O ramal mal funcionou 20, 30 anos e hoje é sucata. O que Carlos Latuff encontrou ali estes dias foram linhas abandonadas, trilhos desaparecidos, enfim, a recuperação da linha para tráfego de cargueiros dispenderia mais dinheiro ainda. E sabemos que a ALL não está disposta a gastar.

Hoje em dia, o escoamento das cargas que vêm da parte da linha ainda ativa (só para constar, os trens de passageiros entre Ourinhos e Maringá cessaram em março de 1981) descem não mais para Santos, via Ourinhos, mas sim para Paranaguá, via linha Apucarana-Londrina - uma linha que funciona desde 1975, sempre foi linha cargueira e nunca teve trens de passageiros. Foi uma ferrovia (chamada anteriormente de Central do Paraná) que levou 26 anos para ser construída (26 anos para pouco mais de 300 km de linha, durante os quais muita coisa teve de ser reconstruída) e que teve, para cada estação, um gasto absurdo de dinheiro - cada pátio tinha um prédio para estação, um armazém e pelo menos 12 casas para turmeiros. A maioria desses pátios jamais foi utilizado, muitos deles hoje são ruínas.

Haja dinheiro. Haja impostos. Haja (falta) de vergonha na cara).

sábado, 16 de outubro de 2010

O CÓRREGO DA CACHOEIRA

Foz do córrego da Cachoeira. Do lado de cá do Tietê, Santana de Parnaíba e o Alphaville. Do lado de lá, Barueri e o bairro da Chácara Marco. Foto tomada por mim em 10 de outubro de 2010.

O córrego da Cachoeira tem esse nome por causa da cachoeira sobre pedras que existe em seu curso e que pode ser vista da Estrada dos Romeiros, para quem vem de Santana de Parnaíba, pouco antes da curva à direita para subir a ladeira que termina no topo onde está o balão do bairro da Cruz Preta.

Em dias normais, a quantidade da água que verte pelas pedras é pequena; em tempo de chuva, a cachoeira chega a ser muito bonita.

Ao contrário de muitos córregos em áreas urbanas, este está por boa parte de seu curso - este não deve ser maior do que três quilômetros - sem construções a sua volta. Nasce no alto da Cruz Preta, desce entre a Romeiros e diversos galpões que foram construídos à margem esquerda do córrego e que são alcançados por pontilhões de madeira ou concreto e depois cai pedra abaixo para cruzar a Romeiros lá em baixo, entrando à direita da Chácara Marco, por onde passa longe das construções que existem por ali.

A Prefeitura está aparentemente fazendo uma obra de recuperação ambiental, mas não sei ainda se isso manterá o córrego a céu aberto ou se significará a sua entubação. Depois de cruzar a Romeiros, ele somente pode ser visto de qualquer rua por ali já perto de sua foz, onde, depois de acompanhar um campo de futebol de várzea, desemboca no rio Tietê em frente aos fundos do Alphaville 4, que fica do outro lado do rio e já no município de Santana de Parnaíba. Quem olha da outra margem do Tietê vê uma foz com bastante água.

Vale lembrar também que esse córrego marcava a divisa das terras do Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar e sua fazenda da Vacaria, que ele possuía ali nos anos 1840 e 1850. Essa fazenda começava do outro lado, mais perto de Parnaíba, no córrego do Sítio do Morro. O desmembramento dessa fazenda deu origem a muito bairros de Parnaíba, como o Germano, Parque Santana, Rancho Alegre e outros.

Longa vida ao córrego da Cachoeira, e que ele fique por muito tempo ainda a céu aberto e com o mínimo de lixo possível...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O PROFETA DO CAOS

Vista de Pinheiros (à esquerda) e do Shopping Eldorado em construção em 1979. Ao fundo, os prédios da avenida Faria Lima e no horizonte a avenida Paulista. 30 anos atrás, e já se previam problemas. A foto foi tirada por mim

Insistindo em um tema no qual tenho escrito várias vezes neste blog: a situação de São Paulo - e provavelmente de outras cidades do mesmo tamanho populacional - já é crítica e ninguém está fazendo algo que realmente possa fazer a cidade voltar a funcionar.

Como autêntico "profeta do caos", daqui a pouco vamos viver em uma cidade onde a melhor coisa a fazer vai ser não sair de casa. Não estou nem falando de segurança, mas de possibilidade de locomoção. Assim como não é tão fácil andar a pé em determinadas calçadas (mesmo que sejam calçadões), já é muito difícil dirigir qualquer automóvel, ônibus, caminhão, o que seja, na cidade.

Quando aqui escrevo lamentando o fato de uma ou várias casas terem sido derrubadas, e na maioria das vezes o são para a construção de edifícios de apartamentos ou de escritórios cada vez maiores, não falo somente no sentido de se perder a memória, mas também no fato de que cada casa que cai é substituída por prédios com uma quantidade de gente muito, mas muito maior, concentrando demais pessoas no mesmo lugar.

Já está mais do que na hora de São Paulo parar. Não somente São Paulo, mas também as outras cidades da área metropolitana. Considerando o número de prédios que são terminados por ano e o número de moradias e escritórios que cada deles oferece, chegamos a um número grande (não, não sei o número), mas é humanamente impossível acreditar que todos eles sejam preenchidos por novos moradores - definindo novos como gente que vem de outras cidades. A população não cresce tão rápido assim. Portanto, há inúmeros locais vazios, tanto novos quanto velhos.

Por que não se usar o que já existe para fazer retrofit, ou seja, transformar casas, prédios, galpões e fábricas em moradias modernas (tipo loft, por exemplo), sem aumentar a área construída? Será que isso representaria o fim da construção civil ou não mudaria muito os números? (também não sei a resposta).

Sempre se dirá que o congelamento da construção de novas unidades habitacionais ou de prédios de escritório causará problemas no nível de emprego. Mas o retrofit não poderia mantê-los? E devemos acabar de vez com nossas cidades somente para manter o nível de emprego?

Enfim, depois de passar hoje (como praticamente todos os dias) pela rua Diogo Moreira, estreita rua no bairro de Pinheiros e que liga em diagonal as avenidas Brigadeiro Faria Lima e Eusébio Matoso, em Pinheiros, eu vi um retrato do desespero: rua curta, com dois quarteirões, aberta nos anos 1940 com terrenos para belas casinhas, hoje nela não mora ninguém. Ali existem dois prédios (um é hotel, outro é escritório), dois enormes buracos onde se começam as obras de dois prédios (um na esquina com a Faria Lima e outro dando fundos para a rua Cariris), o resto são casas que viraram restaurantes ou escritórios.

A rua vive congestionada, e dois prédios vão torná-la praticamente intransitável. A rua Cariris, atrás, vai se tornar um inferno; hoje é uma rua tranquila (basta olhar um mapa e ver a posição desta rua). Agora, quantas ruas Diogo Moreira e Cariris existem em São Paulo sofrendo do mesmo mal? Muitas, infelizmente.

Está na hora da população acordar. Aliás, muito mais que na hora, pois o pesadelo já chegou.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

NOTÍCIAS DO FRONT

O velho TIM em Samaritá, anos 1990. Foto (possivelmente) de Ivanir Barbosa

As notícias ferroviárias do Brasil continuam no "vai ser". Vai ser lançado o edital de licitação para o VLT de Santos. Tudo bem, desde que não se saiba que esse assunto vem se arrastando desde a época do TIM - Trem Inter-Municipal, que ligava Santos e Samaritá pela linha da Sorocabana e funcionou de 1991 a 2000. Parou, sabe Deus por que.

Onze anos para se substituir o TIM é demais... mais de onze, pois a ideia é que o VLT esteja funcionando somente em 2013. E, do jeito que as coisas são, provavelmente vai se atrasar, como sempre. Só espero que saia. Torço para que saia. Muito. Mas continuo cético quanto a isso se concretizar, do jeito que as coisas são levadas no Brasil, tudo por jeito político, por interesses pessoais.

A ALL foi "condenada" a reabilitar a linha Santos-Juquiá, aliás, Santos-Cajati. Ela está abandonada desde 2003. Seria uma excelente opção para um trem regional, melhor que aquela jaca que nos últimos tempos da FEPASA estava trafegando ali ligando a estação de Ana Costa a Cajati em apenas um horário diário. Mas é como camelô da Faria Lima vendendo dvd pirata: como sempre, só o governo não vê. A ALL vai enrolar, como sempre e não vai fazer nada. A esta altura, o mato, o roubo de trilhos, a retirada de trilhos por prefeituras em alguns pontos, já deixou a linha com cheiro de sambaqui indígena.

Por outro lado, parece ser difícil contentar os passageiros de trens no Brasil. Vejam o metrô e a CPTM em São Paulo. São bons trens, tudo funciona. Basta dar um problema uma vez ou outra - repito: uma vez ou outra - que caem matando dizendo que tudo está uma droga. Ninguém parece se lembrar de como eram esses trens nos anos 1970, 80, 90, até mais ou menos 1998, 99. Um lixo. A CPTM demorou alguns anos depois que tomou as linhas da FEPASA e da CBTU, mas acertou o passo. Agora é uma droga? Realmente, é difícil de entender. Mandem esses trens para rodar em Maceió e tragam os que rodam lá hoje para São Paulo, para que vejam o que é que é ruim...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

RESTOS DOS CAMPOS

Entre o campo e os cavalos, o rio Tietê - que não pode ser visto.

Hoje saí a pé para andar aqui perto de casa. Com 15 minutos de caminhada, fui parar no rio Tietê. Nada de novo nisso - em linha reta, estou a 500 metros dele. Só que, para chegar nele, tanto a pé quanto de carro, há voltas e mais voltas. No caminho, passei pela reserva ecológica da Ilha do Bacuri, feita sobre um trecho original do rio em forma de U, na foz do córrego do Barreiro, e hoje não mais parte do curso normal do Tietê.

Um pouco mais adiante, cheguei ao rio propriamente dito. Lá estava ele, com cara de rio de interior, se não fossem, dependendo de que ponto se olha, umas casinhas ao fundo ou um galpão industrial no morro ao alto. Sujo, imundo e sem estar em seu canal original - o rio, ali, foi retificado nos anos 1970 - ainda se parece com um calmo rio a 500 quilômetros de São Paulo. Do outro lado do rio, não é mais Santana de Parnaíba - ainda é Barueri, naquele ponto.

Dá também para ver na outra margem a foz de um outro córrego, o córrego da Cachoeira, que é mais facilmente visto em uma cachoeira de pedras para quem passa pela Estrada dos Romeiros vindo de Parnaíba e pouco antes da Cruz Preta - isso, para quem tem interesse e tempo de olhar sem se distrair e bater o carro. Aliás, a Prefeitura de Barueri parece estar recuperando as margens desse rio, sobre o qual (ainda) não corre avenida nenhuma. É curto, mas bonito... fora a sujeira, pneus, etc.


Logo depois, voltei para casa e tive de sair para comprar algumas coisas. É feriado mesmo, pouco trânsito, fui do outro lado do rio, em Barueri. Aproveitei e dei uma olhada do outro lado do rio em relação a onde eu estava pela manhã. A visão foi interessante. Do lado de cá, um campo de futebol, uma ruazinha que terminava numa pequena mata e, do outro lado do Tietê, os prédios que (infelizmente) estão sendo construídos entre o rio e o Alphaville 4, este em Santana de Parnaíba. Cavalos pastam no campo e os prédios imensos do outro lado mostram a diferença de duas vidas. Há cinquenta anos atrás, os dois lados seriam mais ou menos iguais. Aliás, na foto, o rio não dá para ser visto.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

COMPARANDO GRAFIAS E COSTUMES


Nada como analisar um relatório de estrada de ferro de há mais de 120 anos atrás. Para quem gosta, ele não é um livro chato, mas uma fonte de informações preciosíssima. Para quem não gosta, deve ser algo insuportável. Mas é sempre interessante transcrever alguns parágrafos e comparar procedimentos e também a grafia da língua portuguesa com os dias de hoje. No relatório da Companhia Mogiana de 1888, consta, entre inúmeros outros assuntos, que:

"Trafego - O movimento dos trens, carros e vagões, acha-se detalhado no quadro anexo mostrando que no prolongamento do Rio Grande o percurso kilometrico dos vehiculos é aproximadamente 7 vezes maior que no ramal de Caldas, onde o peso util medio transportado em cada trem é apenas de 4 1/2 toneladas. Forão restabelecidos os trens diarios no ramal de Caldas, em 1o. de novembro proximo passado". O que seriam "trens", já que "carros e vagões" estão discriminados? Seria a locomotiva ou o comboio todo? O prolongamento do Rio Grande é a antiga linha do Rio Grande: linha Ribeirão Preto a Jaguara. O ramal de Caldas, que era só problema um atrás do outro, por ironia do destino é hoje o único ramal da Mogiana que ainda está ativo, transportando, no caso, bauxita de Poços de Caldas. Kilometrico com k e sem acento, "forão" é "foram", várias palavras sem acentos... era o português da época, sem regras rígidas, já que, em várias outras literaturas do mesmo ano, vêem-se as mesmas palavras escritas de forma diferente. Havia regras ou ninguém as seguia, ou, pior, poucos as sabiam?

"Accidentes - No dia 6 de Julho, devido ao descarrilhamento de um vagão carregado com dormentes, nas proximindades do Jaguára, morreram 2 trabalhadores, ficando feridos 6, aos quaes prestou-se os necessarios soccorros medicos". Mais palavras escritas com ou sem acento; quanto aos trabalhadores mortos, eram como se fossem descartáveis.

"Telegrapho - O serviço telegraphico funccionou durante o semestre sem interrupção alguma". E-mails, nem pensar, mas também é verdade que, com certeza, a internet, se existisse, teria caído diversas vezes. Parece que o telégrafo funcionava melhor...

"Linha do Paranahyba - dormentes - Recebeu-se 139.890 dormentes, faltando apenas 110 para completar-se o fornecimento contratado". Puxa, contavam-se os dormentes, um a um. E entregaram 99,9214% só, faltou 0,0786%! E a linha citada depois se tornou a linha do Catalão, ou seja, Jaguara-Araguari.

"Material rodante - Chegaram á Campinas e estão se montando nas officinas da Companhia as 2 locomotivas e os carros e vagões encommendados para o ramal de Silveiras, de bitola de 0,m60". O tal ramal era o ramal de Serra Negra. E a Mogiana já sabia montar locomotivas! Para completar, a crase ao contrário, como era costume antes de 1930. Bem, o ramal e seu material rodante não duraram nem setenta anos.

E, para terminar, em tempo de Império, Imperadores e Barões:

"Deus guarde a V. Exc. - Illm. Exm. Snr. Barão de Ataliba Nogueira, Dignissimo Presidente da Directoria da Companhia Mogyana". Certamente não é assim que se trata, hoje em dia, o Presidente das atuais ferrovias...

domingo, 10 de outubro de 2010

O FIM DE UMA RUA PAULISTANA

Uma das casinhas que ainda sobra na rua Cardeal Arcoverde, na altura da rua Alves Guimarães

A rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, era uma rua relativamente calma até os anos 1960, pelo que me lembro dela. Afinal, eu morava a apenas três quarteirões do seu início na avenida Doutor Arnaldo. No final dessa década, o trânsito que descia a rua Teodoro Sampaio - então com duas mãos e bondes - foi transferido para a Cardeal. Esta passou a ter mão única no sentido Pinheiros e a Teodoro ficou com a mão inversa.

Como sempre acontece, o enorme afluxo de trânsito de automóveis e principalmente de ônibus começou a afugentar os seus moradores. As muitas casinhas que existiam na rua começaram a ser substituídas ou fortemente descaracterizadas para a instalação de estabelecimentos comerciais. Alguns prédios chegaram a ser construídos, mas o trânsito também não era muito receptivo para eles.

De qualquer forma, até cerca de um ano atrás, você poderia dirigir do início ao fim dessa rua com seu carro. Congestionamento constante, mas era possível. No final do ano passado (2009), a rua foi seccionada em sua parte baixa na região do centro do bairro de Pinheiros. Na rua Cunha Gago, a rua seguia com uma curva para a esquerda, cruzando depois a avenida Brigadeiro Faria Lima e depois a Teodoro Sampaio para atingir o seu final na avenida Eusébio Matoso. A partir do fechamento do quarteirão entre a Cunha Gago e a Faria Lima, seu trânsito foi desviado para a rua que seguia em frente quando ela virava para a esquerda e depois entrou pelo meio do bairro depois da Faria Lima.

Quando abriram novamente o trecho fechado, verificou-se que a rua foi seccionada. Quam entra pelo antigo trecho é obrigado a entrar em uma pequena rua à esquerda num terminal de ônibus que começa agora a funcionar. Ou seja, de carro, não é mais possível chegar à Faria Lima pela velha rua.

Pode-se pegá-la novamente a partir da Faria Lima até a Eusébio Matoso - mas esse é o trecho mais deteriorado de toda a artéria. Está bem, em termos de trânsito, isso são contingências. Porém, espero que no futuro o trecho seccionado não venha a ter seu nome tradicional alterado.

Além do mais, diversas das poucas casas que ainda sobrevivem na parte mais alta da rua, ainda no antigo bairro de Cerqueira César, começam a ser demolidas. Quatro delas o foram na semana passada;neste sábado, já estavam em ruínas com uma placa de uma construtora que diz que vai aumentar a sua qualidade de vida demolindo as velhas casinhas. Para mim, isso é um verdadeiro despropósito. Seja o que for construído ali, prédio ou estacionamento, isso apenas deteriorará mais ainda a velha rua.

Seu trecho mais alto, para quem não sabe, é registrado em um mapa pela primeira vez em 1897, seguindo até a altura de onde ela cruza um dos braços do rio Verde, na rua João Moura. O nome era apenas Arcoverde, em outros mapas, Joaquim Arcoverde, e, mais tarde, nos anos 1910-20, começa a aparecer Cardeal Arcoverde. Esperamos que, dado a religiosidade do nome, Deus não se esqueça desta rua.

sábado, 9 de outubro de 2010

MEMÓRIAS DE (OUTRO) CUBATÃO


Nas fotos do acervo de meu avô Sud estão algumas do tempo da visita que ele fez a Franca como Diretor Geral do Departamento de Educação, em 30 de novembro de 1944. Entre outras coisas, ele colocou a pedra fundamental do novo Grupo Escolar da Cidade Nova. Uma das fotos, reproduzida acima, mostra o prédio do Grupo Escolar do bairro de Cubatão.

Há algum tempo, tentei localizar esse bairro na cidade. Quando estive em Franca pela última vez, em 2006, não tive a oportunidade de fazer isso. Encontrei hoje apenas referência ao Curtume Cubatão, que existe desde 1919 na cidade e está localizado a 7 km do centro. E mais nada sobre esse nome, na cidade. O curtume fica hoje no Distrito Industrial Antonio Della Torre, mas, segundo o site do mesmo, originalmente ele ficava ao lado do córrego Cubatão, de onde tirou o nome.

Acredito que um bairro tenha sido gerado a partir do córrego, ou mesmo do curtume. Por isso havia ali um grupo escolar em 1944. Porém, o nome parece ter desaparecido - o curtume e o córrego foi a única referência que encontrei a Cubatão em Franca. O que terá sido do grupo? O curtume parece ter mudado de seu local original, pelo que informam. Ou será hoje o nome do antigo bairro o tal Centro Industrial?

Enfim, fica acima registrada a memória desse pequeno Cubatão, em fotografia tomada por meu avô há 66 anos atrás. A senhora que aparece à esquerda é minha avó Maria.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

TREM DÁ VOTO?

Trenzinho turístico dá mesmo votos? Foto Heber Lange Obregon em Paraguassu Paulista, 2008

A Rede Globo anuncia para o próximo domingo, no Fantástico, uma reportagem sobre as ferrovias brasileiras. Sei lá o que vão falar, mas já tem gente dizendo que a reportagem tem fins políticos, pois estamos em plena campanha de segundo turno de eleições presidenciais, etc. etc. etc.

Bom, seja o que for relatado, vai favorecer - ou prejudicar - exatamente quem? Qual partido? O da situação ou o da oposição? Na verdade, o partido da situação agiu da mesma forma que agiu o da oposição, quando este estava no poder: ambos atuaram muito mal no segmento ferrovias, dunrante os 16 anos dos dois governos muito se falou e pouco se construiu. As concessionárias atuaram agindo somente de acordo com seus próprios interesses e não visando (além de lucros, claro - senão elas não teriam tido interesse em concessão alguma) absolutamente nada em termos de melhorar a infraestrutura do país.

Aliás, convenhamos: transportes e infraestrutura em geral continuam sendo o calcanhar-de-Aquiles do Brasil - também aqui, em geral, muito se fala, pouco se faz.

O que é interessante é que em diversas campanhas políticas, prefeituras falam cada vez mais de colocar "trens turísticos", em "volta do trem de passageiros", em criticar governos por causa de ter abandonado o transporte de passageiros", etc. e, na verdade, na época em que estes trens foram eliminados, ninguém se importou com isto.

Como podem, na verdade, os políticos se utilizarem de "trens turísticos"- cuja maioria dos anúncios de implantação não dão em nada - para tentar ganhar votos, se na hora de se retirarem trilhos da cidade para construir avenidas no seu leito são bastante rápidos? Tiram os trilhos, prejudicando o transporte coletivo, pois esses trilhos e esse leito poderiam ter em seu curto um VLT - os bondes de hoje. Ou seja, o que dá votos realmente? Avenidas ou transporte sobre trilhos?

Os fatos são vastante contraditórios. Não sei, realmente, o que fazer um trem turístico pode arrecadar de votos para um potencial candidato a qualquer cargo político. No fim, o que falta mesmo é planejamento a longo prazo e de forma global em tremos de infraestrutura. Nisso ninguém pensa, isso ninguém faz.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

SÃO PAULO BOMBARDEADA (E NÃO É 1924!)


A cidade de São Paulo viveu sob o bombardeio do "fogo amigo" em julho de 1924. Quem bombardeou não foram os revoltosos que a invadiram, mas sim as forças do Governo da República, que com isso pretendiam expulsar os rebeldes que tomaram conta de boa parte da cidade. Conseguiram. Em 28 de julho, todos pegaram o trem da Paulista na Luz e caíram fora. As consequências dessa fuga até hoje repercutem no Brasil.

Porém, as casas e fábricas destruídas em 1924 foram somente o começo. As fotografias da destruição de 1924 mostravam sempre ruínas com pessoas em volta olhando o estrago. Hoje, a cidade vive um bombardeio silencioso e as pessoas nem param mais para olhar.

Em poucas semanas, foram-se casarões na avenida Brigadeiro Luiz Antonio - pelo menos dois. Foram-se duas casas vizinhas na rua Carlos Sampaio. Foi-se uma casa na esquina da alameda Maracatins com a rua dos Chanés, a um quarteirão da avenida dos Bandeirantes. Olho para o céu e não vejo aeroplanos, não vejo obuzes nem bombas V-2. Também não há tropas da União em volta da cidade. Quem são esses destruidores de casas, tão ou mais rápidos do que o exército de Artur Bernardes?

Na verdade, esses agentes do mal estão bombardeando a cidade já há muito tempo. Em 1924 eles já existiam, mas ainda eram lentos. Com o tempo e a verdadeira admiração dos vilões (não, não pense nos vilões da DC ou da Marvel, pense nos vilões origens da plavra: os habitantes das vilas que enchiam o saco do nobre que era dono dela) pelos edifícios de apartamentos com nomes ingleses, franceses ou italianos, eles se tornaram mestres no assunto.

Eles nem precisam de aviões, obuses ou bombas V-2. Bastam guindastes, pás, picaretas e, de vez em quando, uma implosãozinha. Silenciosos e sorrateiros, eles vão derrubando o que encontram pela frente. Treinaram em Higienópolis, depois na Paulista, nos Jardins (na verdade, a velha Vila America, que nem esse nome tem mais), Moema, Itaim e dezenas de outros bairros, transformando a cidade numa selva de pedra (alô, Francisco Cuoco e Regina Duarte!).

Hoje, fotografei a casa da alameda dos Maracatins, da qual falei acima. A foto está no topo desta postagem. Também estive em três prédios em Moema, em andares altos. De lá, quase não dá para se ver os leitos das ruas estreitas do bairro. O que se vê são prédios e um ou outro telhado de telhas de barro, além das horríveis coberturas de zinco ou de cimento-amianto. De um deles, vi uma construção muito bonita que, por enquanto escapa da destruição: o prédio da Cruz Vermelha na avenida Moreira Guimarães com seu imenso jardim, cada vez mais cercado pela barreira de pedra 'a sua volta.

Córregos com o Uberaba e o Paraguai, que foram canalizados embaixo de prédios, também desapareceram há muito. As casinhas cada vez são em menor número e raramente abrigam moradores, mas apenas pequenas lojas e restaurantes. Na avenida dos Eucaliptos, uma fileira de casas - aliás, muito bonitas - estão cercadas por um muro com o símbolo do metrô. Vão para o chão. O metrô também é um dos bombardeadores da cidade.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

REVISTA DO SESC PUBLICA MATÉRIA COM ERROS ABSURDOS

Esta foi a fotografia publicada na reportagem do SESC. Foi tirada da página da rua Domingos de Moraes, esta feita por mim. A fotografia é do acervo de Ubirajara Ribeiro Martinsde Souza e foi digitalizada por Douglas Nascimento. Nenhum dos nomes foi colocado nos créditos da reportagem.

A última revista do SESC mostra na seção "Almanaque Paulistano" a história da Chácara Flora - supostamente, o antigo bairro, hoje murado, que fica em Santo Amaro, no Alto da Boa Vista.

Não posso contestar os números que eles colocam ali, datas, etc. Posso, no entanto, dizer que o ano em que o município de Santo Amaro foi incorporado ao da Capital foi em 1935, não em 1932 (não é muito difícil de se comprovar isso, para quem duvidar do que escrevi).

E posso, também, que a fotografia antiga que eles utilizaram é a da Chácara Conceição, talvez a casa mais bela que o bairro de Vila Mariana já teve, e não a da Chácara Flora. Por que eles devem ter feito essa confusão? Ora, por pesquisarem mal. A fotografia, à direita, mostra o portão da Chácara Flora... de Vila Mariana, na rua Domingos de Morais. Esta nada tinha a ver com o bairro de Santo Amaro; era uma chácara, apenas, vizinha à Chácara Conceição.

Sei disso, pois eu e o Douglas resgatamos as fotos e memórias da Chácara Conceição, no início deste ano, junto aos descendentes de seus moradores entre 1927 e 1991, quando esta foi destruída; a outra chácara, a Flora, já se tinha ido muito tempo antes, nos anos 1950.

Enfim, um desserviço à história paulistana pelas informações (muito) erradas.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

ECOLOGIA E HIPOCRISIA


Eu já escrevi neste blog acerca deste assunto. Vou escrever de novo. Não, não reli o que sei que escrevi sobre isto há alguns meses. Vamos ver se assim consigo manter o que disse ou se estarei sendo contraditório.

A Sra. Marina Silva conseguiu quase 20% dos votos dos eleitores brasileiros dizendo que quer fazer um governo sustentável. Pode ser que ela acredite nisso. Sinceramente, não acredito que ela acredite. Explicarei por que.

Desde quando uma sociedade que atingiu determinado grau de desenvolvimento tecnológico e de conforto (pelo menos parte de nós) vai querer voltar atrás nos seus prazeres? Ela - nós - não vamos querer abdicar de telefones celulares, casas confortáveis, automóveis e - especialmente - do dinheiro que precisamos ter para conseguir comprar tudo isto. Não, não vamos mesmo. Pode ser que um ou outro aceite isso. Mas a imensa maioria não quererá.

A sociedade, seja ela brasileira ou de algum país da Europa, não vai querer regredir. Ela somente andará para trás, baixando seu nível de conforto, se for obrigada a tal. Enquanto houver petróleo, água, metais necessários para fabricar uma série de aparelhos que tocam nossa vida hoje, madeiras para sustentar nossa construção, a sociedade, seja ela pobre ou rica, vai continuar consumindo tudo isto.

Claro que ela pode sempre reciclar papel, plásticos, vidro ou metais para aumentar a produção. Nos países com maior população de gente pobre, como o Brasil, essa reciclagem será sempre maior, pois os que não têm emprego ou meios para se sustentar vão continuar invadindo desde latas de lixo até lixões urbanos e a se arriscar a contrair uma doença mergulhando nessa pilha de sujeira frequentada também por ratos, baratas e insetos em geral, para coletar o que for reciclável e vender a preços baixíssimos para poder comprar o sanduíche de hoje.

Os cortadores de madeiras nas florestas que devem ser preservadas vão continuar cortando, pois sempre haverá mercado para madeiras nobres. A fiscalização é quase que impossível, principalmente num país onde a corrupção é meio de vida de uma minoria bastante ativa (não, eu não acho que todo brasileiro é corrupto - apenas uma minoria é, mas essa minoria é suficiente para desequilibrar os orçamentos e as políticas).

Enfim, uma consciência voltada para a ecologia somente existirá no mínimo 20 anos depois que a matéria ecologia for dada em escolas desde o jardim de infância de forma séria e sendo acompanhada por atitudes coerentes por parte dos pais. 20 + 20 = 40 anos. Antes disso, qualquer medida é paliativa e principalmente inútil.

Pessimismo de minha parte? Não, realismo. E olhem, é duro reciclar lixo em casa. Embora a prefeitura de Parnaíba tenha carros que recolhem material reciclável de casa em casa para levar para uma cooperativa que trabalha com eles, é duro ver que todo o lixo que v. separa é juntado de novo dentro do caminhão para ser re-separado depois. Parece brincadeira, não?

E ainda oedem para entregar tudo limpo. Limpo, como, se para lavar tudo isso gasta-se água preciosa e detergente que polui os rios? Faz sentido tudo isso? Melhor é não consumir, voltar às garrafas de vidro retornáveis de refrigerantes. Mas, como assim? E ter de carregar todo aquele peso para os supermercados para trocar de novo como se fazia até 20 anos atrás? Eu é que não!!!!

E por aí vemos como estamos dispostos a colaborar com o meio ambiente - ou não. Cara Marina, não perca seu tempo pensando para quem dar seu apoio... é melhor usar algum outro critério. Vai ser difícil, se analisarmos o programa dos candidatos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A CORRUPÇÃO DOS POLÍTICOS É QUE AUMENTA OU SOMOS NÓS QUE NOS TORNAMOS MENOS INGÊNUOS?

Foto RBS - Local: Florianópolis, SC, ontem

A primeira eleição da qual me lembro foi a de 1958. Foi por volta do dia 3 de outubro - se não me engano, as eleições eram sempre nesse dia ou ao redor dele - se não fosse num fim de semana, era decretado feriado. Não entendo por que o brasileiro precisa sempre votar em feriados. Não dá para votar em dia de serviço? Qual é o grande problema? Se o voto é obrigatório, o patrão não pode descontar esse tempo. O camarada acorda, vai votar e dali vai para o trabalho.

Se ele vota do outro lado do País, viaja e volta. Não é isso que ele faz hoje? Se não consegue por que não tem dinheiro, não tem tempo, ele justifica o voto. Ou vota em trânsito - num País que tem urnas eletrônicas como tem hoje, isso não deveria ser problema algum. O camarada se apresenta em qualquer lugar perto de sua casa, diz que vota na seção tal em outra cidade e que está votando ali. A conferência pode ser feita on-line. Não me digam que isso é um problema para ser feito hoje em dia.

Voltando a outubro de 1958, eu achava bonitinho ver o chão cheio de papeizinhos impressos. Alguns com fotos, outros sem. O fato é que esses "santinhos", na verdade, eram o que se depositava na urna. Não havia a tal cédula única. Lembram-se da cédula única? Ela foi introduzida nos anos 1960 e mostrava o nome de todos os candidatos. Desde que fossem poucos... ou seja, no caso de deputados e vereadores, havia uma linha onde v. escrevia o nome ou o número do sujeito. Ou ambos.

Nessa eleição, eu me lembro até hoje - embora vagamente - de um candidato a deputado. Ele tinha o nome parecido com aquele que traiu Tiradentes. Joaquim Silvério dos Reis, não era isso? O final era com certeza igual - dos Reis - e que o resto do nome não era igual ao do "traidor", mas próximo. Aliás, nessa época, eu ainda não havia ouvido falar em Tiradentes e sua turma, eu tinha apenas 6 anos; a associação veio depois.

Por que minha família tinha tantos santinhos desse sujeito? Isso eu somente descobri anos depois: ele era diretor do Centro do Professorado Paulista, que ainda tinha ligação com a família da minha avó, apesar de meu avô ter morrido havia já dez anos. Ele foi presidente por dezoito. Minhas tias - nesse dia da eleição, eu estava na casa da minha avó, na Vila Mariana - e elas votavam no Grupo Escolar Marechal Floriano. À medida que a gente subia a rua Capitão Cavalcânti, onde estava a casa, e se aproximava do grupo, na rua Dona Júlia, o volume de santinhos no chão aumentava. No grupo, era um tapete de papeizinhos.

Hoje, com urnas eletrônicas, sem papéis para se colocar nelas... colocar onde, as "urnas" são pequenos computadores, na verdade! Apenas apertam-se botões. Os santinhos continuam a existir, embora em número muito menor. As pessoas continuam porcas e jogando-os no chão à medida em que elas os ganham dos distribuidores, ilegais (boca-de-urna!!!), mas ainda existentes.

Só não mudam os políticos. Continuam fraquíssimos, a corrupção parece aumentar a cada dia. Ou talvez tenha sido sempre igual, nós é que nos tornamos menos ingênuos. Ingênuos a ponto de acharmos que não tem mais jeito. Que mesmo que um amigo nosso honestíssimo seja eleito, ele jamais deixará de se corromper em nome de "um bem maior"... se isso não ocorre, é porque ele renunciou. Ou ficou no ostracismo durante um mandato todo e, no fim, cai fora pelo resto da vida. Já vi isso acontecer.

domingo, 3 de outubro de 2010

TURISMO NO BRASIL

Salvador: desabamento no Pelourinho, em 2008. Autor desconhecido

Lendo hoje uma reportagem sobre turism0 estrangeiro no Brasil, soube que a média anual de visitantes não passa de 5 milhões desde 1999.

Eu realmente nada entendo de turismo. Apenas sei que eu costumo visitar os lugares que outros não visitam. E que muitas vezes, claramente um local "estoura" como ponto turístico dependendo de fatos completamente imprevisíveis.

Isso não significa que não existam pontos tradicionalmente turísticos no país, como praias, lugares históricos bonitos, pontos onde a natureza é bela...

Um destes é o Pelourinho, em Salvador, Bahia, que cheira história, por diversos motivos. Porém, ficou abandonado anos e anos. Até que, nos anos 1980, o governador Antonio Carlos Magalhães, ou Toninho Malvadeza, como era chamado pelos inimigos, colocou ordem por ali. Restaurou e deu condições para que as velhas casas todas cheias de problemas passassem a abrigar lojas de todos os tipos, restaurantes... tudo para atrair turistas, principalmente os europeus.

Uma das providências que ele tomou foi a de colocar segurança no local. Estive em Salvador algumas vezes, a última vez em 2006, e até à noite ali era uma beleza. Agora, soube que está abandonado, apenas quatro anos depois. Parece-me vingança política contra a obre de Magalhães. Não, senhores, nunca gostei dele. Porém, isso não significa que se deva destruir o que fez de bom.

Porém, a reportagem não falava somente de lá, mas também das Laranjeiras, da cidade do Recife, das praias de Salvador e de Fortaleza. Além disso, aponta o que o governo não fez em termos de política de turismo, e até a quebra da Varig (???).

Enfim: desde que sou pequeno ouço falar que o Governo Federal vai incentivar o turismo interno e interno. Jamais vi nada de concreto nisso. O que vi foram algumas iniciativas de governos estaduais e municipais que deram certo, por algum tempo ou por muito tempo. Mas em termos globais - leia-se federal - nada.

Isto não é uma crítica ao atual governo: é uma crítica a todos os governos dos últimos 40 anos, pelo menos. Entra governo, sai governo, nada acontece e o que se lê nos jornais é sempre a mesma coisa. Tristeza, realmente, pois isso não afeta somente a expectativa de se receber estrangeiros, mas também os turistas daqui mesmo... e a nossa história, memória e apreço pelas paisagens naturais. Afeta nosso direito de ter bons hotéis e restaurantes e boa infra-estrutura para qualquer local que queiramos visitar.

Sei, também, como turista interno, que apenas nos últimos 20 anos o número de hoteis decentes começou a aumentar. Ainda assim, hoje em dia, no Estado mais rico da federação, São Paulo, são poucas as cidades que podem dizer que têm bons hoteis. Antes de 1990, porém, era quase nenhuma: hoje, pelo menos, há algumas. Fora de São Paulo, então, nem se fala. E o Rio de Janeiro, provavelmente a cidade que mais recebe turistas de todo o mundo, ainda não têm dez hotéis que prestem. A cidade de São Paulo tem mais e não tem dez por cento dos atrativos do Rio.

sábado, 2 de outubro de 2010

ESTÁ NA HORA DE ACABAR COM ESSAS PALHAÇADAS!!!


Atenção: os vereadores da cidade querem alterar diversos nomes de estações da CPTM e do Metrô para nomes que, na maioria das vezes, homenageiam pessoas e entidades que nada têm a ver com o local.

Fora o fato que isso somente dificultaria e aumentaria a confusão para a localização dos usuários das linhas. Já basta o que foi feito em diversas estações do metrô e da própria CPTM nos últimos anos, como a alteração dos nomes das estações da Ponte Pequena, Rebouças, Rincão, Sumaré, Barra Funda, Itaquera, Imigrantes, Tietê, Santo André e outras das quais porventura não me lembro agora.

É preciso parar com essa imbecilidade de se mudar nomes por pura politicagem e puxa-saquismo, prejudicando a história e a memória desses lugares com nomes já tradicionais. E não está acontecendo somente na cidade de São Paulo, não. Vejam só:

A estação Jardim São Paulo passaria para Jardim São Paulo-Ayrton Senna. Para que? Ayrton Senna participou de alguma corrida na avenida ao lado da estação? O que ele tem a ver com o bairro? Olhem a desculpa de Campos Machado, autor da proposta: "Senna aliava à sua grande habilidade na pista a sua religiosidade e dedicação". E daí?

Tiradentes passaria a Tiradentes-Frei Galvão. O político Olímpio Gomes diz que "Sua canonização pelo Papa Bento XVI foi um fato inédito, pois se deu em solo brasileiro". E daí? Aconteceu na estação ou no bairro?

Artur-Alvim-Cidade A. E. Carvalho passaria a ser o novo nome da estação Artur Alvim. Por que? "O projeto visa render tributos ao bairro de C. A. E. Carvalho, que faz fronteira com a estação". E daí? O Bairro existe desde os anos 1940, a estação tem esse nome desde os anos 1920. Todos sabem onde ficam ambos. Projeto tambem do "grande" Olimpio Gomes, que pelo visto não sabe fazer outra coisa na vida do que propor bobagens.

Anhangabaú-Zumbi dos Palmares é o primor de proposta que Carlos Giannazi, do PSOL, faz à cidade para renomear a estação de Anhangabaú. Para que? Zumbi jamais pisou em solo paulistano ou paulista, provavelmente nem sabia onde era. Pô, que o tal Gianazzi vá plantar batatas!

A estação Bresser-Mooca, que era só Bresser (ora, todo paulistano sabe que a rua Bresser fica na Mooca), mudaria para Bresser-Juventus. O Juventus fica do outro lado da linha em relação à estação Bresser. E daí? O nome Bresser, no bairro, é mais antigo que o Juventus. Aliás, só o estádio fica ali. O clube, bastante grande, fica bem longa dali, impossível de se alcançar a pá. Proposta de Ricardo Montoro, dizendo que "é uma reivindicação das famílias mais tradicionais da Mooca". Duvido e faço pouco.

Mais uma vez Campos Machado (que, como todos sabem, tanto fez por São Paulo) quer mudar o nome de uma estação: Guaianazes para Deputado Guilherme Gianetti. Por que? "o ex-deputado era fervoroso defensor de sua comunidade". Mesmo? Só ele? Então, ele provavelmente ficaria orgulhoso de que se mantivesse o nome de sua comunidade e não se o trocasse.

Já na estação Ipiranga, o nome passaria a ser Ipiranga-Pastor Alfredo Reikdal, pois o pastor "foi presidente da Assembleia da Deus no Ipiranga", segundo o José Bitencourt, outro político desvairado. Pergunto novamente: e daí?

Na estação Butantan, que ainda nem foi aberta, querem mudar o nome para SPFC-Oscar Erbolato. O tal Oscar teria sido um pioneiro na indústria automobilística e bispo da Igreja Mormon e o São Paulo é o clube de futebol que está a mais de um quilômetro da estação. E daí, senhor Edson Giriboni, do PV? E daí?

A estação Primavera Interlagos teria o nome mudado para Benedicta Ramos Caruso, a pedido de Baleia Rossi, que, aliás, é candidato a deputado, por causa do "alto valor representativo da força desta mulher". Ora, por favor!!!!

As outras 4: Autódromo mudaria para Irmã Agostina (por luta pela comunidade), Tamanduateí para Tamanduateí-Imperador do Ipiranga (por causa da escola de samba!!!!), São Caetano para São Caetano-Prefeito Walter Braido (político da cidade) e Ribeirão Pires para Ribeirão Pires-Antonio Bespalec (que fez três igrejas da Assembleia de Deus). E daí??????????

Está na hora de acabar com essas palhaçadas. A história e a memória desses lugares, do País, enfim, não podem ser manchadas pelos nomes de pessoas medíocres e que não têm em geral coisa alguma a ver com a estação. Chega de bagunça, e que todas essas proposições sejam devidamente e o mais rápido possível jogadas onde devem: na lata do lixo. Não vamos perder tempo e dinheiro nem discutindo essas bobagens.