segunda-feira, 1 de novembro de 2010

MONTEIRO LOBATO E A PROFESSORAZINHA DA UFMG


Bom, acabaram-se as eleições deste ano. Durante meses, vi gente a favor e contra os dois candidatos (os outros nem contam) defendendo-os ou atacando-os em jornais, radios, televisões ou nas calçadas. Até no twitter, facebooks, blogs etc.

Por parte dos dois candidatos mesmo, não vi um programa de governo decente nem qualquer proposta que parecesse séria. Cada um deles pode até ter boas intenções e ideias de realizações, mas não se preocuparam em colocar isto de forma clara. Não tive paciencia de assistir debates: porém, assisti alguns pedaços em gravações e somente um trecho do último deles ao vivo pela TV.

Ouvi bobagens sobre educação, sobre religião, sobre aborto, sobre saúde. Propostas e explicações totalmente irracionais. O Estado é supostamente laico, portanto, não tem de dar satisfações sobre qualquer religião. Aborto sempre existiu e sempre existirá. E é perigoso por diversos motivos, o principal deles a profilaxia necessária, que não existe pois tudo é feito às escondidas, e é feito assim porque é proibido. Fosse livre para quem quiser fazer, estaria tudo bem melhor.

Já a educação vai mal neste País há muito, muito tempo. Antes do século XIX, só havia escola para quem fosse muito, mas muito rico. No século XIX, começaram timidamente as escolas públicas, que também não tinham lugar para todos que podiam e que deveriam estudar. Quem tivesse posses mandava seus filhos para estudar em escolas particulares - que também eram poucas, ou para a Europa.

Pelo menos no Estado de São Paulo, a situação começou a melhorar no final desse século. As escolas públicas melhoraram muito em qualidade, mas não em disponibilidade de vagas. Até os anos 1930, a discussão não era sobre nível de ensino, mas sobre o fato de não haver vagas nas escolas públicas para todo mundo. Daí para a frente, aos poucos foi mudando: hoje, pelo menos neste Estado, há vagas para todos, mas a qualidade do ensino público é lamentável. Um dos motivos é o baixo salário dos professores.

Saúde? Bem, enquanto se fala que tudo melhorou em termos da área pública, continuamos assistindo a denúncias no país inteiro sobre atendimento precário nos hospitais e postos de saúde. INSS, então, com filas e mais filas. Aliás, desde que nasci. E estou com quase 59 anos. O que ouvi candidatos falarem neste assunto é o que sempre ouvi: vamos fazer, e no final, nunca fazem. Tanto na saúde quanto na educação.

Enquanto isso, vamos perdendo tempo com bobagens. Fora religião e aborto, meio ambiente: no caso, "meio ambiente" está longe de ser bobagem, mas pensar que tudo vai ser feito em termos sustentáveis numa economia de mercado é ser ingênuo e mentiroso. Se quiserem, basta ler uma postagem minha de poucas semanas atrás aqui. Cultura? Meu Deus, cultura é um fator primordial, pois é a base, junto com a educação, de uma civilização, de uma nação, de uma pátria. E sobre isto pouco ou nada ouvi. Cultura continua sendo prioridade zero, salvo as exceções de praxe. O risco de não a termos é o emburrecimento da população.

Vejam isto: nos últimos dias, parte da obra de Monteiro Lobato foi condenada por uma professora da UFMG por ser racista. Meu Deus, racista? Como, racista? Seja qual for a explicação que se dê ao que a professora falou, não dá para engoli-la. E se procurarmos agulha em palheiro, vamos notar, no mínimo, que a obra foi escrita nos anos 1920 e 1930. Uma das mais belas obras do mundo, que espelha uma realidade brasileira daquela época - o meio rural. Note bem, daquela época. Portanto, qualquer coisa que tenha conotação racista numa análise de hoje é uma aberração.

Naquele tempo, os usos e costumes eram muito diferentes dos de hoje. Justificavam-se atos então que hoje não podem ser justificados (mas que sempre podem ser explicados). Não vou entrar em detalhes, mas perder tempo hoje com esse tipo de afirmação, tentando privar a geração atual de ler uma das mais belas obras literárias brasileiras e mundiais como as de Monteiro Lobato, porque ela teria conotação racista em 1920? Se é que teria! Ora, os tempos mudam - e vão continuar mudando.

Vamos gastar tempo com coisas mais importantes. E, se possível, mandem a tal professora plantar batatas (veja abaixo-assinado). Pelo menos, ela vai saber que, um dia, a população rural do Brasil era muito maior do que a atual. Alguma coisa, afinal, ela, como professora, precisa conhecer sobre a terra onde mora.

5 comentários:

  1. Concordo com quase tudo. Me reservo o direito de querer entender melhor essa questão... porque se trata de livro comprado com recursos públicos pelo Min. da Educação, para ser usado como texto de leitura, com fins pedagógicos. Até eu me estranho, ao querer condenar a indicação de um livro de Monteiro Lobato. O fato é que não lembro do conteúdo desse livro (acho que é o Reinações de Narizinho, nem lembro se li), mas... às vezes pode não ser o melhor livro para ser comprado pelo governo e ser distribuído... Vai ver que cumpriu bem sua missão de oferecer textos para crianças naquela época, mas hoje não... não sei. Gostaria da opinião isenta não de um, mas de alguns pedagogos. Essa praia é também minha, mas é sobretudo deles.

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  2. O que discuto é o fato de se perder tempo com bobagens quando há muitas coisas muito mais importantes para se resolver, e também por se querer julgar o passado com a visão de hoje. Este é um erro enorme.

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  3. Li em uma revista que ele (bem como várias pessoas do seu tempo) acreditava na eugenia,porém acho qualificá-lo de racista e proibir seus livros,quando são maravilhosos é coisa de gente xarope e que no mínimo quer aparecer.Gostei do seu blog

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  4. Não cheguei a ler os comentários dessa tal professora sobre a obra de Lobato, que considero um de nossos maiores escritores. Mas basta vermos esses psicólogos criticando o Pica Pau, Pernalonga, Tom e Jerry, Michey e Donald e todos os desenhos animados de outrora, pelo simples fato de serem "agressivos e ensinarem a se matar". Interessante notar que eles apoiam Pokemon e Cia LTDA. Agora, o Pica-Pau cair de 1000 andares e esborrachar no chão, saindo andando, é violência, e o Pokemon soltar raios fulminando o adversário (e cegando as crianças no Japão) não é agressivo. Vou parar por aqui mesmo, a indignação fica muito grande nessas horas. Tenho 20 anos de idade e para mim Pica-Pau e Cia sempre serão os melhores desenhos do mundo, assim como tudo que considero bom. Abraços, T+.

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  5. Sem dúvida, José e Jonatas, a demagogia é extremamente imbecil. Desenhos bons são esses (embora deteste Pokemon e não por causa da vilencia, mas pelo fato de serem mal desenhados). Desenho "bonzinho" só agrada crianças de colo...

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