quarta-feira, 20 de abril de 2011

A MORTE DE UM PROFESSOR

Hamilcar Turelli é o primeiro à esquerda, nesta fotografia do final dos anos 1950.
Morreu ontem o Hamilcar Turelli, o "Doutor Turelli", diretor do Colégio Visconde de Porto Seguro por muitos anos. Soube da notícia pelo jornal O Estado de São Paulo de hoje, no obituário. Em 1944, Turelli já estava na diretoria da associação. Não sei quando efetivamente se aposentou, mas eu ainda o via no colégio nos anos 1990, quando ia buscar meus filhos.

Na verdade, parece que o cargo não era exatamente o de diretor - mas era ele que mandava ali. Se não mandava, disfarçava muito bem. Extremamente autoritário, os alunos morriam de medo dele. Porém, em conversas com ele posteriores à minha saída do colégio (formei-me em 1969), mostrou ser uma pessoa muitíssimo agradável. Sempre vestia terno. Nunca o vi com outra roupa. Sempre de bigodinho. O cabelo, sempre impecavelmente penteado.

Era professor também. E bastante explosivo. Muitos de meus antigos colegas realmente não tinham a menor boa lembrança dele. Era do tipo que berrava com os alunos. Porém, num colégio alemão de meados do século, isto não era nenhum crime. Outra época. Ele era o Porto Seguro, um colégio que, bem ou mal, é dos que mais marca quem ali estuda.

Ele tinha por volta de noventa e cinco anos. Posso estar enganado por alguns anos, mas, segundo uma conversa que tive com um sobrinho dele, há cerca de 3-4 anos, ele já tinha mais de noventa anos e já nessa época era o único dos seis (acho que eram seis) irmãos ainda sobrevivente.

A família era de Angatuba, interior sul de São Paulo, no ramal de Itararé da Sorocabana. Sempre ouvi dizer que era um sujeito muito esforçado, que subiu na vida graças a seus esforços e perseverança.

Sempre ficará na minha memória a célebre frase proferida por ele em 1968, quando ele reuniu num dos corredores do antigo prédio do colégio na Praça Roosevelt os alunos dos dois "segundos científicos" - segunda série do segundo grau, hoje em dia - para bater um papo ali mesmo, atitude que supreendeu a muitos.

Ah, sim, qual foi a frase? Foi a resposta a uma pergunta feita não me lembro por quem, sobre "qual era o motivo de não se permitir a entrada de alunos na escola usando calças rancheiro (hoje, chamadas de "calças jeans", mas era de rancheiro que se chamava na época). Ao que ele respondeu prontamente com sua voz típica: "porque o colégio não é rancho".

Que Deus o tenha.

Um comentário:

  1. Estudei nesse prédio da Roosevelt em 1978/79, não mais Porto Seguro, mas E.E. Caetano de Campos, fruto da divisão dessa escola pública quando do fechamento do prédio original da República: uma parte dos alunos foi para um prédio novo na Aclimação, e a outra parte foi para a Roosevel. O prédio tinha acabado de passar uma ampla reforma, que à época me pareceu bem feita. Legal relembrar a expressão "calça rancheiro". Valeu.

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