sábado, 5 de novembro de 2011

A MONTANHA DO REI

Guilherme Giesbrecht. Local ignorado, época ignorada

O que liga duas cidades, uma no norte da Europa, e outra na região de Campinas, em São Paulo? Em princípio, nada. Kaliningrado, antiga Königsberg - "montanha do rei" -, é hoje um enclave russo em terras da Polônia, mas, até 1945 pertencia à Alemanha. Cidade milenar, foi bastante conhecida pelo enigma das Sete Pontes, do qual já falei antes neste blog. Jaguariúna, antiga Jaguary, a poucos quilômetros ao norte de Campinas, muito menor do que a outra alemã, não tem ainda 120 anos de idade.
Igreja de Santa Maria do Jaguary, em Jaguariúna. 2005.

O que as liga é um alemão de nome Wilhelm, ou Guilherme Giesbrecht, meu bisavô, nascido em 1866 em Königsberg. Diz a história que seu padrinho de batismo foi o rei da Prússia que alguns anos mais tarde tornou-se o Kaiser Guilherme I e que ele deixou seus pais e uma irmã na Alemanha e chegou ao Rio de Janeiro em 1888. Alguns dizem também que ele esteve antes em Buenos Aires e no Chile. Guilherme casou-se em Diamantina, Minas Gerais, logo depois, em 1890, quando já estava trabalhando, provavelmente na cidade de Ouro Preto, para a futura Estrada de Ferro de Paracatu. Em 1892, mudou-se para "a estação de Jaguary", em Mogi-Mirim, estado de São Paulo, para trabalhar na duplicação da linha da Companhia Mogyana.

Uma das "onze casas", ainda em pé. 2005.

A duplicação, por diversos motivos, acabou não se efetivando e ele foi convidado pelo Coronel Amâncio Bueno, um dos pouquíssimos moradores próximo à estação, para criar uma vila: deveria construir para Bueno "onze casas e uma igreja". Foi o que "o engenheiro alemão", como era conhecido, fez. Em 1895, deixou a cidade. Mais tarde, foi reconhecido como fundador de Jaguary, que se tornou município somente em 1953, já com o nome de Jaguariúna.

É difícil saber se ele tinha esta pretensão; acredito que ele jamais tenha pensado nisto. Seu primeiro filho, Hugo, meu avô, nasceu lá em 1893. Os outros oito nasceram em cidades diferentes, dependendo de onde o casal estava trabalhando na época. Quase que com certeza, Guilherme jamais retornou a Jaguary. Trabalhou em diversas outras ferrovias até os anos 1920. A partir daí, meteu-se também na construção de rodovias, como, por exemplo, a São Paulo-Belo Horizonte, na região próxima a Belo Horizonte. Outra cidade na qual ele é também citado na história é Brumadinho, em Minas, exatamente pelo tempo em que lá passou construindo essa estrada, que, aliás, hoje em dia não passa mais lá.
Königsberg, pouco antes da Segunda Guerra Mundial.

Também é pouco provável que ele tenha vindo alguma vez em sua vida à cidade de São Paulo, onde viveram meu avô e seus filhos, a partir de 1934, vindos de Ponta Grossa, no Paraná. Grande parte de sua vida ele viveu em Minas Gerais, provavelmente por causa de sua esposa, Maria, que era de Diamantina. Nos trinta anos finais de sua vida, ele morou em Governador Valadares, a antiga Figueira do Rio Doce. Morreu lá em 1957.

No final de 2008, a cidade de Jaguariúna publicou um belo livro sobre a cidade, citando tanto Amâncio Bueno quanto Guilherme Giesbrecht como seus fundadores. Fui convidado para a festa de lançamento e compareci. Eu já conhecia a cidade. Ainda existem algumas casas (poucas) das onze contruídas por meu bisavô. O livro relaciona-as todas. Existe também uma planta da cidade desenhada por ele. A igreja ainda está lá, tendo sido restaurada recentemente. É bonita, mas pequena. Por isso, construíram outra, cerca de um quarteirão para cima da praça. A igreja se chama Santa Maria. Teria sido uma homenagem à sua esposa?

Em algum local do município - acabei não indo conferir - há um bairro de nome "Vila Guilherme Giesbrecht". Acabei não indo conferir onde é. Pelas construções - há uma fotografia dele no livro citado - deve se tratar de um loteamento recente. Para quem mora lá, deve ser bem difícil pronunciar o nome.

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