sexta-feira, 13 de julho de 2012

QUANDO O GOVERNADOR ANDAVA DE TREM

Fevereiro de 1943. Por algum motivo, o interventor no Estado de São Paulo (na época, regime do Estado Novo de Getúlio Vargas, não havia governadores, mas interventores federais nomeados pessoalmente pelo Presidente da República) resolveu visitar algumas cidades da Alta Sorocabana.

Ele foi de trem. Não era, realmente, surpresa: as estradas de rodagem nessa região eram péssimas - quando existiam. Mas a vantagem de se viajar de trem (no caso, a Sorocabana) era descer nas estações em bom estado e ser festejado pelo povo que nela se espremia, deixnado à sua frente os puxa-sacos políticos de cada cidade.

As cidades escolhidas para suas visitas foram, além de Sorocaba (logo no início da viagem), as que ficavam realmente na Alta Sorocabana, que na época não tinham nem quarenta anos de idade: Salto Grande, Pau D'Alho (hoje Ibirarema), Palmital e Ipauçu.

Pequenas, com população que rondava os 5 a 10 mil habitantes no máximo naquele tempo, verdadeiras usinas de poeira sem pavimentação de qualquer espécie, Fernando Costa pode ter sido o primeiro governador a visitar esses locais. A festa se dava principalmente pela curiosidade da população e dos próprios políticos em receber tão alta autoridade em suas minúsculas cidades.

E, também, numa região isoladíssima dos grande centros, era motivo de se ter algo diferente para fazer, não interessando aos populares se gostavam ou não do interventor. Já os prefeitos - vereadores não haviam no Estado Novo - eram sempre obrigados ao "beija-mão", pois eram nomeados também pessoalmente pelo interventor. Tudo era motivo para festa numa região de total tédio.

E a Sorocabana, de propriedade do Estado, era o meio de transporte para aquelas paragens, o único meio decente então, com todos os defeitos que pudesse então ter. No entanto, comparando-se com o que viria a se tornar setenta anos depois - ou seja, hoje - uma verdadeira maravilha, com trens de passageiros, hoje apenas uma saudade, e cargueiros indo e vindo para transportar praticamente toda a riqueza daquelas paragens e levar-lhes praticamente toda a subsistência.

Tal quase-monopólio já teria desaparecido vinte anos mais tarde, vitimados pelos automóveis, ônibus, caminhões e até aviões, que competiriam facilmente como abandono cada vez maior dos governos em relação às "velhas" e "obsoletas" ferrovias.

Da reportagem que trazemos (parte) no cabeçalho desta postagem, acima, publicada no jornal Folha da Manhã de 20 de fevereiro de 1943, extraímos pequenas frases, como: "...em Pau D'Alho o sr. interventor federal e os componentes de sua comitiva foram alvo de expressiva homenagem, sendo s. exa. cumprimentado na estação pelo sub-prefeito (...) Deixando a composição especial em que viaja, o sr. Fernando Costa"; "Às 21h 30, o trem especial deixava Sorocaba, prosseguindo o sr. interventor federal e sua comitiva sua viagem com destino à Alta Sorocabana"; "Palmital foi a cidade seguinte, visitada pelo sr. Fernando Costa e sua comitiva, às 10 h 35 o trem especial dava entrada na estação, onde já se encontravam os srs. (...)". "(Em Salto Grande) a chegada do trem especial que conduz o chefe do governo paulista se deu precisamente às 8 h 40, em meio das manifestações de júbilo da enorme massa popular que se comprimia na estação ferroviária local".

E por aí vai. Trem especial, estações ferroviárias cheias, chegas e partidas com horários... há quanto tempo não vemos isto nos jornais? Aliás, provavelmente a maior parte das pessoas vivas de hoje jamais tenham lido isto, pois trens metropolitanos não têm este tipo de coisa: a recepção de uma ou mais pessoas, importantes ou não. Nas estações da CPTM e do metrô, pessoas esperam pelos trens para embarcar; pessoas não esperam mais por pessoas para recepcionar; pessoas não estão lá para acenar para quem deixa a plataforma depois de embarcar...

Um comentário:

  1. ...e ex-governador também. Reali Jr, em sua autobiografia, menciona que acompanhou o ex-governador Adhemar de Barros e sua esposa numa viagem pelo trem-noturno da EF Sorocabana entre São Paulo e São Manuel, em meados da década de 1960. Na ocasião Adhemar já havia sido cassado pela ditadura militar.

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