terça-feira, 25 de dezembro de 2012

NATAL EM JURAMENTO – 1923


Guilherme Giesbrecht e um dos netos, José, em 1937. Guilherme já tinha 71 anos então.
Na espécie de “Curriculum Vitae” que meu bisavô Guilherme Giesbrecht, o “engenheiro alemão”, escreveu em 1947, consta nos escritos: “1923 – Chefe dos estudos preliminares do prolongamento da estrada de ferro Bahia-Minas, entre Montes Claros, Bocaiúva e Arassuahy”.

Tal prolongamento jamais foi feito, embora tenha havido estudos para isso, feitos por Guilherme, nesse final de ano de 1923. Qual não foi minha surpresa ao ver que existe um relatório escrito por ele mesmo e publicado no jornal “A Manhã”, de 1926, jornal em pdf que me foi enviado ontem por meu amigo Daniel Gentili, morador em Lins, SP.

Por ele, sabemos que... “dia 11 (de dezembro de 1923): partida de Belo Horizonte e chegada a Buenopolis”. Na época, era a última estação em cidade na linha do Centro da Central do Brasil. Além dela, havia linha funcionando até a estação de Jequetaí, hoje Granjas Reunidas, que era a ponta da linha. Por que Guilherme desceu em Buenopolis, sessenta quilômetros antes? Possivelmente porque ali seria possível negociar um trem de lastro para seguir até além de Jequetaí. Foi o que ocorreu: um engenheiro residente da construção da linha até Montes Claros conseguiu um deles para Guilherme e sua comitiva até Malhada do Meio, oitenta e cinco quilômetros à frente.
Bocaiuva, Engenheiro Navarro (Malhada do Meio), Granjas Reunidas (Jequetaí)... percurso de trem pela linha provisória da Central que seria somente aberta em 1926. O mapa é dos anos 1950.
Eles pernoitaram nesta estação – que hoje tem o nome de Engenheiro Navarro – e fizeram preparativos para chegar até Bocaiúva. No dia seguinte, 13, “às 6:30 da manhã, partida para Bocayuva, onde chegamos às 11 horas e hospedamos no hotel de D. Duca Versiani”. E ele já deveria saber que essa senhora tinha um hotel ali – afinal, Guilherme havia trabalhado com Pedro Versiani na Bahia-Minas, anos antes. Deviam ser parentes. Mas como chegaram a Bocaiúva? De trem de lastro? Demoraria um trem de lastro cinco horas para fazer apenas cinquenta e seis quilômetros numa linha provisória? Ou foram de carroça, automóvel, tilburi, cavalo?

Ficaram na cidade por seis dias aguardando a chegada de animais para transporte na jornada até Montes Claros e dali além. E foram colhendo o máximo de informações possíveis para a continuação da viagem. Guilherme tinha, na época, cinquenta e cinquenta e sete anos de idade. E continuava a se aventurar elo desconhecido da mesma forma como em Paracatu (1890), Jaguariúna (1891), Aquidauana (1908), quando era bem mais jovem.

No fim, chegaram “cinco animais de carga”. No dia 20 de dezembro, partiram Às 9:30 da manhã. “A nossa comitiva constava de um animal de carga, dois camaradas montados e do autor desta narrativa”. Depois de uma viagem num “dia horrivelmente quente”, chegaram em Montes Claros, no hotel da D. Duruta, “as 20 e 45. “Gastamos, sem as paradas, 9 horas e 20 minutos de viagem”. Ficaram quatro dias na cidade colhendo informações, “muito escassas”.

De Montes Claros a Riacho do Fogo (ribeirão do Fogo). O mapa é dos anos 1950, a ferrovia não existia em 1923 ali, ainda. O ribeirão do Fogo deve ser o que está sem denominação junto à localidade de "Riacho do Fogo" que aparece no mapa. O nome "GRANDE" refere-se ao rio Verde, no mapa como "rio VerDe Grande".
Deixaram a cidade no dia 24 a cavalo (jegues?) às 7:50 da manhã e chegaram ao Ribeirão do Fogo às 13:00, onde pararam para descansar. Dali seguiram até a barra do ribeirão no rio Verde. Durante todas as viagens, Guilherme ia fazendo anitações: tipos de solo, vegetação, subidas e descidas. Atravessaram o Verde e subiram pelo divisor de águas do ribeirão do Juramento e, “às 16 horas, entramos no próprio vale do Juramento, que é bem povoado”. “Às 17:30, chegamos à fazenda do Dr. Daniel Chrispim de Macedo, situada a curta distância da margem esquerda do ribeirão; pernoitamos, com alguma relutância da família, pois o dono da casa estava assistindo à festa de Natal em Juramento”. Nessa época, ainda era costume dar hospedagem a viajantes nas fazendas isoladas.
 
“Tivemos um calor de 39º durante o dia; nesta noite, ouvimos a primeira trovoada, mas com pouca chuva, festejada pelos lavradores”. Na manhã do dia 25 de dezembro, deixaram a fazenda agradecendo o Dr. Daniel, que havia retornado durante a noite, seguindo sempre pela margem esquerda do ribeirão Juramento. “Fizemos uma pequena parada na fazenda Maquiné, de propriedade do Sr. Luiz Maia, (...) atravessamos duas vezes o ribeirão e chegamos às 10:30 na povoação do mesmo nome, hospedando-se em casa do Sr. José Leão, demorarmos ahi para fazer a nossa provisão nossa provisão e, por ser dia de Natal, celebrado com religioso respeito e muita alegria. No dia 26, partimos de Juramento às 7:30”.
 Na época (1923), Juramento não era município. O mapa é dos anos 1950. Guilherme entrou nele atravessando o rio Verde Grande (à esquerda) e seguindo o vale do ribeirão do Juramento até o então povoado que hoje é a sede do município.

Quantos natais em seus 91 anos de vida Guilherme não terá deixado de passar com sua família por causa destas viagens hoje sensacionais?

Continua...

Um comentário:

  1. Aqui em Candido Mota sp, tinha um alemão por nome de Rodolfo Geyer (?) que além da ferrovia adorava futebol e ajudou a fundar a União Atlética Ferroviária Candidomotense. Naquele tempo o funcionário era "ajustado" como meu Pai dizia mais por ser bom de bola do que ser bom de trabalho.Montou um super time, quase imbatível na região. Será que deixou descendentes?? Abçs!

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