terça-feira, 22 de janeiro de 2013

PERNAMBUCO: O RAMAL DE GARANHUNS

Estação de Garanhuns - Foto Gleidson Lins
Pois é, quando os ingleses chegaram a Pernambuco para abrir a E. F. do Recife ao São Francisco, a ideia era ir buscar mercadorias no rio São Francisco e levar para o porto de Recife, de onde as despachariam para outros mercados consumidores. Isto faz muito tempo: data dos anos 1850. A ideia não deveria ser má, pois até o Barão de Mauá, o mais famoso empresário brasileiro do século XIX, apostou parte de sua fortuna nessa linha.

Era uma época em que Pernambuco era uma das províncias mais ricas do Império, bem diferente dos dias de hoje. E a linha começou a ser construída, tendo aberto seu primeiro trecho em fevereiro de 1858 - foi a segunda estrada de ferro a ser aberta em terras brasileiras - entre a estação das Cinco Pontas, junto ao porto do Recife, e a localidade de Cabo de Santo Agostinho, popularmente chamada de Cabo. Este trecho, hoje, é um trem de subúrbios gerenciado pelo metrô de Recife.
Estação de Canhotinho - Foto Gleidson Lins
Dali para o sul, ou melhor, para o sudoeste, a ferrovia foi sendo construída em partes, tendo como carga principal o açúcar das usinas que ou já existiam ou eram fundadas à medida em que a linha se aproximava delas.
Estação de São João - Foto Gleidson Lins
Os dois últimos trechos que efetivamente foram construídos ligavam a estação de Quipapá à de Canhotinho, em 1887 e desta até Garanhuns, em 1887. A ferrovia não deveria parar aí, mas parou. O problema teria sido o fato de o leito para ser construído até o rio São Francisco, num ponto longínquo onde ele deixava de ser navegável, não muito longe de Petrolina, exigiria muito investimento - e, afinal, Garanhuns já era um centro rico naquela época que, como ponta de linha, geraria bastante movimento e cargas para serem transportados pela ferrovia. Ops, não falei de passageiros: como sempre, eles nunca foram a prioridade. Porém, foram servidos por muito tempo.

Alguns anos depois, em 1894, a construção de uma pequena estação de nome Paquevira, entre as estações de Água Branca e de Canhotinho, e de uma linha que a ligava até a estação de São José da Lage, já em Alagoas, ligaria Recife a Maceió e esta ligação não passaria por Garanhuns. A esta altura, era melhor entrar Alagoas adentro do que se aventurar no sertão pernambucano além-Garanhuns. Isto determinou que a ferrovia que unia Paquevira a Garanhuns fosse considerada, a partir de então, um simples ramal de apenas cinquenta e sete quilômetros.
Estação de Paquevira - Foto Claudio Vitoriano
Mesmo nessa época, era evidente que linhas longas teriam maior possibilidade de sobreviver que linhas curtas, e o ramal era uma destas. Porém, ainda se aguentou por setenta e sete anos. Em 1971, o ramal foi desativado e desmontado. Os trens de passageiros, no entanto, acabaram em algum instante entre 1968 e 1969, dois anos antes, portanto.
Estação de Angelim - Foto Gleidson Lins
Havia cinco municípios então entre Paquevira e Garanhuns. Cidades que praticamente nasceram com as estações do trem - com a exceção de Garanhuns - Canhotinho, Angelim e São João sofreram bastante com a eliminação do trem. Estive em Pernambuco três anos antes disso. As rodovias nessa região eram péssimas. Certamente não estavam melhores quando do fechamento da opção ferroviária para essas cidades. Absurdo. Já Paquevira continuou na linha principal. Os trens entre Recife e Maceió somente foram fechados mais tarde, uns vinte anos depois.

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