terça-feira, 25 de novembro de 2014

VINTE E CINCO DE NOVEMBRO

Angélica, foto c. 1915 - sentados, meus bisavós, pais dela. Em Porto Ferreira
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Eu já escrevi aqui que conhecia muito bem a árvore genealógica de minha família, principalmente dos Silva Oliveira (a família derivada de meus bisavós portugueses, Daniel de Oliveira Carvalho (1846-1928) e Constança da Silva Oliveira (1896-1932)), que se casaram em Porto Ferreira, SP, antes que se conhecessem um ao outro.

Por procuração, Daniel e Constança casaram-se em 1885, Daniel como noivo e um irmão de Constança como noiva por procuração. Constança chegou somente algum tempo depois, de navio, vinda de Portugal.

Já eram pais em 1886. Em 1916, tiveram seu décimo-terceiro e último filho (Flávio, 1916-1982). Um deles, ou melhor, uma delas, a quinta filha, foi Angélica Carvalho de Oliveira (a única que não tinha o sobrenome Silva Oliveira, sabe-se lá por que). Nascida em 1897, como todos os irmãos e irmãs em Porto Ferreira, formou-se (também como todos os outros irmãos, menos uma, que morreu bebê, a misteriosa Madalena) professora primária na Escola Normal de Pirassununga.

Madalena foi a sétima filha. Viveu dezessete dias, Nasceu em 1899 e morreu em 1900. Viveu em dois séculos (bom, a não ser que se considere a forma castiça de se designar o século, que começa sempre no final 1 (2001) e termina com final zero (2100)). Nada praticamente se sabe de Madalena, a não ser que morreu. De que? Por que? Por que o tabu nas histórias de família de se falar destes casos?
Casa da rua Vergueiro 2024, (a da esquerda, que não tinha garagem mas jardim e tinha uma escadaria do portão ao primeiro piso, que não aparece na foto). Pouco antes da demolição, em 1969. O casal sobre a garagem da casa vinha eram... os vizinhos
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Enfim. Angélica casou-se em 1916 com Antonio Siqueira de Abreu, num casamento em Porto Ferreira duplo: no mesmo dia e local, mais um irmão, Joaquim da Silva Oliveira, casou-se com Deolinda Bergström Lourenço, gerando a família Lourenço de Oliveira. A festa deve ter sido grande. Considerando-se que, na época, a cidade não chegava a 3.000 habitantes de população, a foto da feta com todos os presente, tirada em alum quintal, seja lá urbano ou rural, é muito significativa.

Siqueira - era assim que todos os chamavam - também era filho de portugueses e era de São Simão, SP, não muito longe do "Porto". Era universitário, formado em Farmácia e em Odontologia. Angélica e Siqueira foram morar ali. Não tiveram filhos. Não conseguiram, segundo se contava. Tornaram-se os "tiozões", os célebres segundos pais de todos os sobrinhos.

Tio Siqueira (Que eu conheci muito bem) e tia Angélica (idem), moraram em São Simão até cerca de 1939, quando por problemas políticos - Siqueira foi prefeito lá em meados dos anos 1930 - resolveram deixar a cidade e vir para a Capital, onde estavam morando praticamente todos os irmãos de Angélica, sobrinhos etc. Angélica era diretora do Grupo Escolar de São Simão. Foi transferida para outro Grupo em São Paulo, mas não foi esse o motivo de terem se mudado.

Não sei se Siqueira continuou a ser dentista em São Paulo. Desde que me lembro deles, estavam aposentados já (meados de 1955). Havia três festas anuais para eles. Uma, a 11 de agosto, aniversári de Siqueira. Outra, a 25 de novembro, aniversário de Angélica. E outra, talvez esta a mais tradicional das três, o seu aniversário de casamento - 28 de setembro. Eu fui praticamente a todas elas. Era impossível não ir, salvo se estivesse viajando, ou doente. Numa dessas festas, a do casamento, Siqueira chegava à casa de Maria - esta festa era sempre feita na casa da irmã de Angélica, minha avó, e dizia, com as mãos para o alto: "O Sud está aqui!" Isto passou a ser dito na primeira festa dada depois da morte de meu avô Sud, marido de Maria, em julho de 1948.

Era fantástico. A família praticamente inteira comparecia. Imagine-se os descendentes de doze irmãos (fora Madalena a própria Angélica e Lollio, que morreu solteiro com vinte e poucos anos e era músico). Lollio era um retrato na parede. E uma ou outra história já muito antiga, já que ele morrera pelo menos trinta anos antes de meu nascimento.

Hoje é 25 de novembro, fez-me lembrar de uma dessas festas - a do aniversário de Angélica. Incrível como, depois de vinte e um anos de sua morte (em 1993 - Siqueira faleceu em 1977), ainda possa me bater na memória não somente essa data, quanto as outras duas. Eram realmente pessoas muito amadas.

Finalmente, para constar: depois de casados, moraram em São Simão em endereço para mim desconhecido - mas tenho foto da casa, sei que era de esquina e de fundo para o córrego do vale, hoje uma avenida. Em São Paulo, moraram na Vila Romana (rua Guaicurus, 77, casa que não conheci, mas que até uns trinta anos atrás ainda existia, tendo sido depois derrubada), depois na rua Vergueiro 2024 (esplêndida casa, demolida pelo metrô, ficava a meio quarteirão do largo Ana Rosa e se fosse hoje reconstruída no mesmo local, ficaria no meio da pista direita da rua - que na época era estreita, pista única, mão única sentido cidade, cheia de ônibus que faziam o segundo andar da casa balançar, pois o que separaca o primeiro do segundo piso eram travas de madeira com assoalho de tábuas). De lá mudaram-se em 1969, para a rua Nicolau de Souza Queiroz (o número não lembro, mas parece que a casa ainda existe), quase em frente à rua Apeninos. Nesta casa morreu tio Siqueira. Ou já teria sido na casa seguinte? Não consigo me lembrar exatamente.

Com isso, tia Angélica mudou-se para uma casa na rua Ambrosina de Macedo, 51, muito próxima à rua Cubatão. Ficando doente sem poder mais andar devido a uma queda em idade avançada, Angélica mudou-se para a casa de minha avó Maria, sua irmã, na rua Maracaju, 58 - a meio quarteirão da casa da Ambrosina. Morreu ali com 95 anos em 1993.

Saudades deles. Muitas.


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