sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

OS TRILHOS DO MAL (XX) - 1973


Quem acabou com as ferrovias brasileiras? Mais especificamente, com os trens de passageiros no Brasil?

Bem, já apresentei aqui vários motivos em diversos artigos. Mas sempre aparecem histórias interessantes.

No mesmo dia, 27 de outubro de 1973, o jornal O Estado de S. Paulo apresentava dos excelentes motivos (não se sabem se eram verdadeiros, ou se os artigos eram apenas as opiniões dos editores, contaminados com a "guerra aos trilhos" que já existia na época (resumindo: ferrovias são antiquadas, automóveis são o presente e o futuro); ou, ainda, se eram notícias distorcidas, voluntaria ou involutariamente.

A primeira chamava-se: "Mendigos preocupam (Presidente) Prudente e a segunda, "Trilhos seccionam cidades".

Na primeira notícia, a Igreja Católica da cidade de Presidente Prudente teria enviado um ofício à diretoria da FEPASA na Capital, pedindo para que ela parasse de colocar e despachar mendigos de São Paulo pelos trens mistos e cargueiros da ex-Sorocabana e "desaguá-los" na cidade interiorana, situada a seiscentos quilômetros de distância, para que eles... bom, o artigo afirmava que "a cidade dispões de completa assistência social e trabalho para todos".

A pergunta é: realmente Presidente Prudente era o paraíso da época? Segundo: a FEPASA realmente fazia isso propositamente? Uma história que me parece um tanto fantástica, mesmo estando nós no Brasil e o ano corrente fosse 1973 (quarenta e dois anos atrás).

Na outra reportagem, os "trilhos do mal" já apareciam claramente. O artigo começava com a seguinte frase: "Não há cidade paulista servida por via férrea, a começar na Capital, que não se defronte com o problema de ser praticamente seccionada pelos trilhos". E citava os municípios de Santo André e os outros do ABC que são cortados até hoje pelos trilhos da atual CPTM. Pior: cita como uma "grande solução" a mudança dos trilhos em Ribeirão Preto para a construção de avenidas (nota deste autor: em 1973, os trilhos continuavam no mesmo lugar, ainda com movimento, apesar de a linha realmente ter sido mudada para o então ainda vazio oeste do município. Os trilhos realmente foram retirados, mas somente em 1978, e jamais viraram avenidas). Usar os trilhos das linhas velhas para fazer transporte urbano sobre trilhos não passava pela cabeça deste pessoal.

Imaginem a mesma coisa feita em Santo André, São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Teriam perdido os então trens de subúrbio daquela época, que, com o tempo, transformaram-se no atual sistema da atual CPTM, com serviços muito melhores. A reportagem dizia que não se poderia fazer a mesma coisa nessas cidades por falta de espaço - a "mesma coisa" referia-se em Ribeirão Preto.

Este tipo de artigos influenciava a população da época a ter raiva dos trilhos. Os atutomóveis, ônibus e caminhões dominaram a cena. E o caos urbano hoje está instalado à nossa volta. Não é mais uma previsão.

Curiosamente, nas cidades citadas acima, no ABC e na Capital, os trens continuam circulando - graças a Deus. Somente em Presidente Prudente a coisa foi diferente: os trilhos ainda estão lá, mas somente para raríssimos cargueiros da atual concessionária, a ALL. Os últimos trens de passageiros passaram por lá em janeiro de 1999.

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