sábado, 25 de abril de 2015

FAMÍLIA

Angélica (em pé), Constança e Daniel, em foto cerca de 1915 em Porto Ferreira
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Continua sendo difícil para mim arranjar algo que me inspire a escrever neste blog. A última postagem foi há três dias atrás. O motivo, já escrevi aqui diversas vezes: os problemas sérios causados a nossas vidas por diversos fatores, mas, hoje, é pior: um governo incompetente, desonesto e corrupto que está acabando com as nossas vidas.

O problema é: estarei certo? Há gente, certamente, que discorda de mim. E não serão poucas. Vão dizer que eu sou um fracassado - não, eu não sou um fracassado, tive uma vida normal (defina "normal", por favor), ou seja, nunca fui rico nem pobre. Nunca fui pessimista, sempre fui otimista. Hoje, não vou dizer que sou pessimista, mas estou cruzando a linha entre o primeiro e o segundo.

Será que é a idade: Sessenta e três anos. Tenho uma saúde razoável, mas sempre lembro que fui operado já duas vezes do coração. Mas já não posso jogar futebol. Antes disso, teria realmente que fazer um longo tempo de exercícios até conseguir começar aos poucos. E não jogaria três, quatro hoeras seguidas como jogava antigamente aos domingos de manhã., por exemplo.

Minha família é pequena Minha esposa sempre me deu e continua me dando apoio. Meus filhos têm seus problemas, mas também tocam suas vidas. Gostam de nós e gostamos deles.

Eu sempre fui muito ligado à família. Quando era pequeno, e até meus trinta e cinco anos, tinha muito contato com eles: primos, tios, pais, avós. Hoje, tenho minha esposa e três filhos. Tenho minha mãe. Tenho meus primos, com os quais me dou bem mas pouco vejo porque estão longe, em Santa Catarina. Contato, quase sempre por telefone e eventualmente vi facebook e e-mails.

Eu gostava quando a minha família era enorme - e estou falando de uma parte dela, dos Silva Oliveira. Eu nem tenho esse nome, nem minha mãe tem, embora seja filha de uma delas. Como eles levaram suas vidas? Meu bisavô português nasceu em 1846. De todos os meus quatro bisavôs, era de longe o mais velho. Era português, de Trás-os-Montes e veio para o Brasil com aproximadamente vinte e cinco anos, ainda solteiro. Trabalhou no interior de São Paulo, como peão de obras. Sei que trabalhou na Comapnhia Paulista de Estradas de Ferro, no ramal de Descalvado, Provavelmente foi por isso que se fixou em Porto Ferreira. A cidade passou a existir em 1880, quando a linha férrea chegou ali, mas ele logo em seguida mudou-se para lá. Ou já estava por ali, vai saber.

Ele se casou em 1885, com uma irmã de um amigo seu que provavelmente conheceu já no Brasil, Casou-se por procuração e conheceu sua esposa quando ela chegou ao Brasil, já como sua mulher. E deu certo. Havia vonte e cinco anos de diferença entre eles. Em 1886 já tiveram o primeiro filho (Manuel, como todo bom português) e tiveram treze no total, o último em 1916, Flavio, quando ele tinha setenta e um anos.

Daniel era Oliveira. Oliveira Carvalho, na verdade. Sua mulher era Silva. Os filhos eram Silva Oliveira. somente uma delas, minha tia Angélica, que era Oliveira Carvalho, sabe-se Deus por que. Em Porto Ferreira, foi ele que trouxe as linhas telefônicas (1909). Trabalhou também no cartório. Foi um dos autonomistas do município, criado em 1896 - as reuniões eram em sua casa.

Treze filhos e filhas. Com exceção de dois, que morreram cedo (uma, Madalena, com treze dias e o outro. Lollio, de pneumonia, com vinte e um anos), todos vieram para a capital para morar, em épocas diferentes. Muitos ficaram e morreram em São Paulo, como minha avó Maria, por exemplo, a que se casou com Sud Mennucci em Porto Ferreira e que com ele veio morar na Vila Mariana, em São Paulo, em 1925.

Os outros onze: Manuel foi para São Paulo, morou no Belém, teve um sítio no Embu e acabou voltando para Porto Ferreira, onde foi prefeito na segunda metade dos anos 1940. Depois, doente, parece que voltou para São Paulo. Morreu com Alzheimer, ou algo do tipo. Luiza foi infeliz com o marido, com quem se casou aos 14 anos. O marido acabou morrendo depois de lhe dar quatro filhos e ela ficou sem nada. Meus avós a ajudaram a vida toda; ela morou com eles, depois em outros locais, com filhos ou em Mogi das Cruzes. Morreu na Capital. Joaquim morreu jovem, mas casado e com três filhos. Morava em São Paulo. Angélica morou muito tempo em São Simão, pois seu marido era de lá. Mudou-se para São Paulo, onde morreu com 95 anos. Lollio morreu em Porto Ferreira. Era músico e professor. Como já disse, morreu de pneumonia. Não havia penicilina. Minha avó sempre contava que ela foi descoberta pouco tempo depois de sua morte. Madalena nem conheceu o mundo.

Olimpia nasceu na virada do século XIX para o XX. Casou-se com um Mussolini, alfaiate em São Paulo. Morreu perto dos noventa anos na Capital. Mario morreu perto dos sessenta. Casou-se e teve uma filha. Moravam na Vila Mariana. Urbano também veio para São Paulo. Casou-se e teve quatro filhas. Seu concunhado era Jean Villin, de quem sempre falo. Homero veio para São Paulo com a esposa, que era de uma familia (Sotero), do Vale do Paraíba. Tiveram dois filhos. Morreu perto de fazer setenta anos, em Piracicaba, onde foi morar depois de deixar a Capital. Esther nunca se casou. Era professora de musica. Sempre morou com minha avó, depois que minha bisavó faleceu, em 1932. Flavio, o mais novo de todos, também veio para São Paulo, morou com minha avó (que era irmã dele, mas também passou a ser mãe, depois que minha bisavó Constança morreu), depois se casou e ficou em São Paulo, também na Vila Mariana, onde teve dois filhos. Voltou para Porto Ferreira e foi vereador. Morreu em 1982, de infarto.

A influência que tive na vida foi sempre dos Silva Oliveira. Conheci todas as pessoas que citei acima, exceto meus dois bisavós, Madalena, Lollio e Joaquim. Sobram muito poucos deles hoje. Mamãe está viva, com 95 anos. Das famílias Mennucci, pequeníssima no Brasil, tive pouco contato, nem meu avô conheci, e Guesbrecht, que, apesar de grande, morava espalhada pelo Brasil. E tinha os Klein, de minha avó Rosina, casad com meu avô Giesbrecht, dos quais tive algum contato também.

Isso pode não interessar para ninguém que me lê, mas para mim, ajuda-me a não falar dos problemas que citei acima. Mas continuo a achar que nada como uma boa família. Todos com seus problemas, com seus defeitos, mas sempre fui muito bem tratado.

Hoje as famílias são bem menores, ninguém é louco de ter treze filhos mais. Porém, fico imaginando uma mesa com quinze pessoas, no almoço e no jantar, numa pequena cidade do interior paulista, com fogão a lenha, sem eletricidade, sem telefone, sem celulares, sem computador, i-pads e i-pods, há cem anos atrás, com as crianças pegando o trem para fazer a Escola Normal de Pirassununga todos os dias, indo e voltando sozinhas.

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