segunda-feira, 11 de julho de 2016

A FEPASA DE 1905

Hugo Augusto Rodrigues
"Uma nova era economica se anuncia. O espirito de associação cresce e affirma-se garantindo a expansão das forças nacionaes. É o preambulo de um grande futuro que desponta. É o signal da vitalidade que nos anima, exprimindo o grau de confiança em nossos proprios recursos. A fusão da Paulista e Mogyana, tendo por escopo a acquisição da Sorocabana, é uma gigantesca tentativa, que cobrirá de beneficios S. Paulo e o Brasil inteiro. É a conquista de toda essa vasta riqueza concentrada na bacia do Prata".

Com uma frase como esta, parecia que o futuro do Brasil era maravilhoso e a curto prazo. Este texto foi escrito nas páginas do jornal O Estado de S. Paulo, em 16 de outubro de 1904, um domingo. Ele apoiava, claramente, a então dada como praticamente certa (pelo menos pelo jornal) fusão das três maiores ferrovias paulistas.

A crise econômica da época de Campos Salles estava acabando. A Sorocabana havia falido - a crise vinha de longe, desde antes da sua fusão com a Companhia Ytuana em 1892. A massa falida foi assumida pelo Governo Federal. O Governo do Estado estava comprando-a. São Paulo era mais rico que o Brasil?

Outro domingo, 20 de novembro de 1904, e o mesmo jornal diz que "ouvimos, de pessoas bem informadas, mas, ainda assim, damos uma noticia com as necessarias reservas, que se levantam algumas difficuldades para a fusão da Paulista com a Mogyana. Ao que dizem, a Ingleza, descontente com a projectada ligação de Itaicy, não só prestará a facilitar o emprestimo necessario para a acquisição da Sorocabana,  mas tambem procurará, por todos os meios, embaraçar que essa operação se realise. É possível, porem, que os iniciadores da fusão desistiram de levar a nova estrada ao porto de Santos e, então naturalmente, as difficuldades desapareçam".

A São Paulo Railway, SPR, ou "Ingleza", como queiram, jogava pesado com as três empresas brasileiras, duas particulares, uma estatal. Havia muitos interesses em jogo, como houve com a Mogiana, que tonou uma rasteira da SPR e viu a compra da Bragantina por esta (1903) jogar ao lixo sua pretensão de estender um ramal até Santos ou São Sebastião) e não depender mais dos ingleses.

Além do mais, a Sorocabana estava em rixa com os ingleses por causa da sua intenção - aliás, não somente intenção, como ela chegou por um tempo a fazer isso - de desviar suas cargas e também passageiros para Mairinque e chegar a São Paulo pela sua própria linha e não mais por Jundiaí, que ficaria somente com as cargas que seguissem para Santos.

Itaici era o foco deste problema. Estação que funcionava havia mais de trinta anos, a partir de 1897 passou a estar ligada até Mairinque, o que possibilitava o desvio para a linha-tronco da Sorocabana do que vinha de Piracicaba, Campinas e da Funilense. Agora, já se anunciava a possibilidade de ligação de Itaici também com Campinas, o que não somente desviaria cargas de lá e da Funilense, como também da Mogiana, que estaria ligad a Mairinque por uma linha direta sem alteração de bitola.

Pouco mais de três meses se passaram e, em 25 de janeiro de 1905, agora o jornal Correio Paulistano informava que o Congresso Estadual reunir-se-ia em 6 de março para organizar a Sorocabana nas mãos do governo do Estado ou transferir sua exploração, A fusão não deu em nada, a Sorocabana acabou sendo posta à venda pelo Estado e a SPR entrou na dança para comprá-la. Porém, o empresário Percival Farquhar foi mais hábil e ficou com ela.

Quanto à Mogyana, a intenção de ser absorvida pela Paulista não a agradava, ainda mais com a Sorocabana já fora da "fusão". E tudo parou por aí.

Calro que houve muitos outros detalhes nessa história.

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